A celga é agora hortaliça conhecida pelas suas virtudes no combate da tensão alta, na melhoria do desempenho físico, na prevenção do cancro, da anemia e da miopia, na potencialização do nosso cérebro e até mesmo no aumento da saúde dos nossos ossos!
“O que sugeres para o jantar?”
Esta é uma pergunta frequente em minha casa, com várias respostas possíveis. O que invariavelmente conduz apenas à decisão da matriarca da família. Em toda a minha vida nunca me aconteceu sugerir: “Olha, apetece-me um jantarinho de celgas”. No entanto, a descoberta da gastronomia alentejana pode ser uma constante aprendizagem, até para um alentejano de gema.
Fui, então, debruçar-me sobre esta receita, talvez na senda de, ao Domingo à tarde me crescer a água na boca por um daqueles que são pratos típicos na mesa alentejana.
Para já, jantar em alentejano significa “refeição”, não necessariamente o jantar que se toma às vinte horas, mas aquela refeição que, no dia, é mais substancial. A evolução da palavra jantar tem raízes na palavra manjar ou seja “comer”, e nos tempos em que se trabalhava o campo arduamente e sol-a-sol, o jantar era servido muito mais cedo do que nos acostumamos agora. Era a refeição do dia que porventura dava todo o sustento às mãos calejadas, costas dobradas e suor a escorrer pela fronte.
Portanto, não se admire quem por cá passa em ouvir, ao almoço, que a ementa é um “Jantarinho de Grãos” ou um “Jantarinho de Celgas” ou um “Jantarinho de Beldroegas”.
A celga é agora hortaliça conhecida pelas suas virtudes no combate da tensão alta, na melhoria do desempenho físico, na prevenção do cancro, da anemia e da miopia, na potencialização do nosso cérebro e até mesmo no aumento da saúde dos nossos ossos! Mas nem sempre foi assim a acelga brava ou selvagem era muito boa, porque era selvagem, o que quer dizer que aos olhos do recolector experiente, este produto estava disponível na natureza. Muitas das receitas alentejanas vêm de um tempo marcado pela pobreza e pela fome.
Conhecida como beterraba-branca tem um sabor distinto, mais forte que o da couve, dá a qualquer prato uma assinatura distinta. Talvez o verdadeiro sabor da tradição.
Pode ser confundida com couve ou espinafres por um gastrónomo mais cabeça-no-ar, mas nada tem a ver a não ser o seu modo de preparação, pois pode ser à semelhança destes, cozinhada com grão, carnes ou em sopa.
Fica aqui a receita do “Jantar de Celgas”.
1º Esfregar as celgas com sal. Isto serve para retirar grande parte dos oxilatos presentes na planta no caso de ser selvagem. Deve também demolhar os grãos para que se preparem para a cozedura (Se usar grãos pré-cozinhados não é necessário).
2º Coloque os grãos no fundo da panela, seguido da carne (pode adicionar enchidos ou toucinho). E por ultimo as celgas.
3º Adicionar água até cobrir toda a pirâmide de sabores, com um fio de azeite, mas se usar o toucinho cuidado com a gordura que este vai naturalmente libertar.
4º Deixe cozer, retirando a espuma que se forma com a cozedura.
5ºQuando os grãos estiverem cozidos, bem como a carne, introduza na panela cebola, salsa, um raminho de hortelã e umas batatas (uma batata por cada quatro pessoas).
6º Deixe cozer bem até a batata estar no ponto.
7º Tire tempo para preparar o pão nos pratos.
8º Ao arredar (retirar do lume) certifique-se se está bem temperado e retifique.
9º Tente servir o caldo por cima das sopas, no prato, acrescentando depois a carne, os grãos e os enchidos. Pode ser conveniente separar a carne para uma travessa apenas para que seja mais fácil abastecer e reabastecer o prato.
10º Aproveite e após… durma a sesta, é um bom auxílio à digestão.
Que vos parece? A mim parece-me muito tentador…Talvez assim se consiga resolver de uma vez por todas essa pergunta filosófica milenar: “O que fazer para o jantar?”