A taxa de desemprego entre os jovens em Portugal não cessa de subir e afecta já mais de 165 mil pessoas entre os 15 e os 24 anos, números registados no último trimestre do ano passado. Mas olhar para as estatísticas do desemprego como se o valor total da pandemia que afecta os jovens fosse mais relevante que indicadores como a zona geográfica, ocupação profissional e até mesmo educação.
Os terceiros trimestres de 2011 e 2012 registaram, respectivamente, 156 mil e 175 mil jovens desempregados, um aumento estrondoso de 19 mil jovens que já vão perdendo a esperança de ver realizados os sonhos e alcançadas as ambições. O desemprego tem afectado inusitadamente todo o país, mas com algumas discrepâncias. O Algarve em a taxa de desemprego mais elevada do país, seguido da capital e da Madeira. A zona centro e os Açores ainda são as zonas com um registo mais baixo.
Os jovens, o desemprego, o trabalho, os estágios, as oportunidades têm sido palavras da ordem do dia. Muito se fala e se em falado da situação ingrata, incómoda e desagradável em que se encontram os jovens desempregados e sem perspectivas de futuro. Fala-se de uma geração perdida, esta geração que é ao mesmo tempo a mais qualificada da história. Muitos consideram ser a geração menos resiliente.
De que modo é este barco desancorado e com que esperança vai esta geração lutar. O investimento que foi feito na educação, chancela meritória do Republicanismo, começa agora a colher o que há muitas décadas plantou, mas com um mercado saturado, o esforço acabou por ser inglório. Uma batalha mal jogada e perdida.
Alternativas? Emigração, talvez, desde que com peso e medida. Estamos a assistir a uma verdadeira fuga de cérebros, da era dos jovens mais qualificados da história portuguesa e de uma despreocupação da classe política, que embora reconheça o mérito e valor dos recém-formados mais não fazem do que incentivá-los à saída. A emigração pode funcionar como uma alternativa, mas não como uma regra.
Existem, porém, ideias ainda enraizadas e olhadas com desdém que, nesta altura do campeonato, não se justificam. Olhar para uma profissão técnica com desagrado, como se fosse de um grau tão inferior quanto de uma comparação entre 12º ano e 9º ano. Olhar-se para a agricultura não como uma profissão, mas como um lazer ou lavoro de outros tempos, desactualizada e insignificante. A arte é ainda vista como uma profissão de segunda categoria, corre ainda o mito de que medicina e advocacia é que são as boas profissões – aquelas que outrora foram as profissões da nobreza – mas convém lembrar que precisamos tanto destes quanto de um mecânico ou de um serralheiro.
É preciso que as profissões mais técnicas consigam um novo élan social. Repensá-las sem ser necessário hostilizá-las. Não somos nem devemos ser todos Doutores. Precisamos de tudo, de filósofos, de politólogos, de sociólogos, jardineiros, mecânicos. Não nos podemos condenar a uma única linhagem.
O governo tende a tentar resolver o problema do desemprego com estágios atrás de estágios, uma medida que funciona a prazo curto, mas não a longo prazo. O desemprego deve obrigatoriamente ser combatido com mais emprego e o que tem sido feito são as tentativas constantes de potenciar o empreendedorismo, chavão utilizado recentemente, mas inapropriado quando se força o ensino desta disciplina que se pretende criativa e não impingida.