Os namoros

O namoro aos 6 anos

O menino olha para a menina e ela desvia o olhar. Ele volta a insistir e ela olha para ele. No dia seguinte sorri para ela, logo à chegada. Ela olha para ele e senta-se no seu lugar. Desafia-o. No dia seguinte já sorriem os dois e no dia seguinte ouvem-se gargalhadas. “Gosto de ti. Queres ser minha namorada?” Ela, muito envergonhada diz que sim. E ficam os dois naquela inocência saudável de partilha de sentimentos. O recreio serve para estarem próximo um do outro e ficam satisfeitos com as primeiras descobertas.

O namoro aos 10 anos

A menina repara no menino. Olha fixamente para ele. Ele não percebeu nada. Continua a brincar com os amigos. Ela não desiste. No dia seguinte aproxima-se dele. Ele afasta-se. Ela fica triste. Volta a tentar, mas ele ainda não percebeu. Um dia ela deixa de olhar para ele. Ele sente a falta dessa atenção. Olha para ela. Ela desvia o olhar. No dia seguinte ele oferece-lhe uma flor apanhada no pátio da escola. Sorriem os dois. Dão as mãos e cheiram a flor. Sentem que estão numa nuvem de novidades. É a alegria total. O coração bateu a sério.

O namoro aos 15 anos

O rapaz e a rapariga cruzam-se na rua. Reparam um no outro, Ela é atraente e ele fabuloso. Ficam sem saber o que dizer. Olham sem falar, mas o seu olhar comunica. Voltam a cruzar-se a agora ele avança e fala com ela. Ela cora, mas sente-se a voar de ele ter sido capaz. Falam de trivialidades, mas pensam em coisas tão diferentes! Ele quer tocá-la e ela aproxima-se.O coração bate descontrolado. Encontram-se mais vezes e chega o primeiro beijo, aquele que descarrega a energia e o sentimento acumulado. Ouvem-se sinos e as borboletas voam pelo firmamento. Trocam palavras de amor e percebem que não podem passar um sem o outro. Estão apaixonados. Amam-se. I love you for ever ( enquanto durar… )

O namoro aos 18 anos

Conhecem-se através de amigos e o primeiro encontro é desastroso. Querem conhecer-se sem constrangimentos. Voltam a sair e conversam. Começam a conhecer-se e passam à fase seguinte. Vivem o imediato e os corpos são adultos e decidem por si. Fazem férias juntos e partilham alguns dias. Pensam em viver juntos, mas ainda têm muito para viver. A experiência está a ficar séria demais e decidem “dar um tempo”. Cada um vai para o seu lado e sofrem com as saudades. Voltam a juntar-se e vivem um dia de cada vez. Sem pressas nem pressões. Estão a viver um amor adulto que assusta e comanda. Os sentimentos estão cada vez mais fortes.

O namoro aos 20 anos

Ele é amigo da amiga dela e ela teve um desgosto de amor. Vão beber um copo e engraçam um com o outro. Bebem mais outro copo e, quando dão por isso, perderam a conta aos copos. Vão para cada dele e passam uma noite tão maravilhosa e tão fantástica que no dia seguinte não se lembram de nada. Acordam com a boca a saber a papel de pauta e cada um vai para o seu lado. Uns dias depois voltam a encontrar-se e repetem a dose, mas com mais moderação. Vão curtindo. A vida é para ser vivida e ainda há muito para aproveitar. Passam a ser regulares na cama um do outro, mas sem compromissos. Um dia separam-se e percebem que estão apaixonados. Não pode ser, porque ainda não querem uma relação séria. Insultam-se e voltam à caça. Ele chora que nem um desalmado e ela vai para o ginásio. Fica a mágoa, mas a vida continua. O amor está arquivado.

O namoro aos 30 anos

Ela pensa que nunca mais aparece o tal e ele julga-se ainda um adolescente. O relógio biológico começou a dar horas e não há tempo a perder. Se não há o perfeito haverá o que é o melhor. Ele ainda curte como se tivesse 15 anos e responsabilidades estão muito longe. Por azar um dia olha para a mulher deslumbrante que está à sua frente e o coração salta pela boca! Tem que a conhecer! Ela olha, com algum desdém, para perceber se é a sério ou só mais uma aventura. Têm um encontro clássico: jantar, cinema e um copo. Ao terceiro encontro ela está tão apaixonada quanto ele. Quer ter a certeza. tentam. Vão viver juntos. Não há tempo para frescuras de platonismos. Estão bem. Ajustam-se e prosseguem. Pensam em filhos e encontram a estabilidade. O amor anda no ar e todos os dias ainda são especiais. Aprendem a conhecer-se sempre. O amor amadureceu.

O namoro aos 40 anos

Saíram de relações complicadas e já não acreditam que algum dia vá dar certo. Estão tão cépticos que se assustam com qualquer barulho. Ela está presa por arames e ele desanimado. Naquela tarde cruzam-se no ginásio e começam a conversar. As palavras são como as cerejas e, quando dão por isso, já sabem mais da vida de cada um do que da dos reis, quando andavam na escola. Vão ao cinema ver um filme romântico e, sem se aperceberem, estão de mãos dadas,, como quando namoravam aos 10 anos. Decidem experimentar a flexibilidade da idade e da experiência. Conquistam-se diariamente e sentem-se tão felizes que parecem viver numa nuvem de algodão doce. Arriscam a viver rápido e percebem que nada é perfeito. As cedências são de parte a parte e vivem bem assim. Fazem férias espectaculares, porque decidem pensar somente neles. O amor está para ficar.

O namoro aos 50 anos

O peso da vida e as desilusões fazem com que não queiram saber de mais compromissos nem experiências. Os traumas acumulados tão tantos que nenhuma limpeza os conseguirá eliminar. Na fila do super mercado trocam duas palavras e sentem uma química que pensavam já estar morta. Sorriem e trocam números de telefone. Vão jantar e conversam tanto que são convidados a sair, porque querem fechar o restaurante. Sorriem e olham um para o outro como se ainda tivessem a frescura da adolescência. Ele oferece-lhe flores e, apesar de gostarem um com o outro, cada um fica na sua casa. A racionalidade e a idade tem as suas vantagens. Estão de novo apaixonados, mas não vão cometer os mesmos erros. Viva o amor, mas acima de tudo viva a liberdade!

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