Não há nada mais importante do que o amor. Não há nada mais complicado, mais ardente, mais inexplicável, mais profundo. Tudo só faz sentido quando há amor.
Contudo, o amor traz sempre consigo o medo. Com o verdadeiro amor, o medo revela-se perspicaz, absolutamente absurdo e acutilante.
Ao medo, tão grandioso, associamos todas as feridas que muitas vezes julgamos guardadas na gaveta, onde fechámos as mágoas do encontro que era para ser sem nunca ter sido, da escolha que foi feita em detrimento de nós, da ajuda que pedimos sem nunca nos ter sido concedida. Dói muito o fim daquela boa historia, de sabermos que aquela pessoa já nunca mais estará presente.
Por isso, vamos construindo carapaças, muralhas, fronteiras, erguendo torres, achamos que o amor verdadeiro é somente uma grande invenção na nossa cabeça. Que grande mentira essa a de que há grandes amores, que existe alguém por aí que nos faz sentir mais nós, que nos ergue o orgulho ferido quando ele rasteja lá por baixo, que nos aceita como nós somos, com o cabelo despenteado e ramelas nos olhos.
Depois das mágoas, das traições, das buscas perdidas e dos corações partidos, achamos que é muito melhor jogar pelo seguro. Que o dinheiro no banco, que a segurança de alguém mais velho ou mais novo, que aquela pessoa que quer ter filhos porque queremos ter filhos ou aquela pessoa que não tem filhos e nós não queremos aturar putos, essa pessoa sim, essa pessoa é feita à nossa medida. Essa pessoa é que tem potencial para estar ao nosso lado.
Escondemos bem escondidinho, nas gavetas dos sonhos despedaçados, a necessidade da pessoa perfeita para nós. Porque cremos que o amor não existe, que não é real, que tudo é produto de romances e filmes e gente sem a mínima noção, certamente pessoas ingénuas que não sabem nada sobre ter os pés no chão.
E quando preferimos a pessoa com potencial no lugar da que poderia ser perfeita, até podemos ter alegria, sentirmo-nos em segurança, mas a sensação de plenitude não vai estar lá. Não estamos lá, nunca estivemos.
É que o verdadeiro segredo é acreditar. É perceber que nunca erramos no amor. Que nas tentativas de acertar vamos errar, que não foi perda de tempo estarmos com a pessoa que nos fez sofrer. Aprendemos, vivemos, tentámos. Só por um segundo que seja já valeu a pena.
O que nos faz mal é não viver o inseguro pelo seguro, só porque achamos que não tem o potencial que a sociedade acha que tem que ter ou que achamos nós nos vai trazer todo o conforto.
Mesmo assim estamos sempre certos. É que o mais bonito do amor é que é sempre amor e esconde-se até nas opções que são erradas. Há que ser amor, respirar amor e quando nos amarmos verdadeiramente a nós, o amor perfeito que sempre procurámos e que achávamos inexistente, finalmente chega. Com todo o seu potencial.