Farto de ouvir falar sobre o Corona? Ou o Co(n)vid a ficar em casa? Sente-se cansado e não sabe que informação deixar penetrar na mente confusa? Nesse caso já podemos formar um clube, mas tem de se frisar que é necessário compreender o que se passa em nosso redor. E a informação que nos chega é o que nos protege e previne contra males maiores. Para isso, sugiro que viaje por este artigo e faça algum esforço (agora todos temos um tempo extra e o Netflix tem muita coisa que não é imperdível) para compreender a analogia que faço com este assunto e como a informação em talk-shows cómicos ajuda as massas americanas a compreender o seu presidente e a olhar para o lado bom da vida através do riso. Os Estados Unidos da América passam por crises ideológicas constantes, referentes à ilegalidade ou não de armas, quando acontecem os violentos tiroteios em escolas.
Em fevereiro de 2018, Donald Trump foi ridiculizado por vários apresentadores de talk-shows. Nada demais no panorama televisivo e social americano, mas o assunto e a reação do Presidente dos Estados Unidos da América a ele concederam-lhe uma panóplia de diversas piadas que ridicularizam, devido a um heroísmo que ele se propunha a fazer. De acordo com um artigo do Independent de Travis M. Andrews, o Presidente fez machetes, quando afirmou que teria corrido para o Marjory Stoneman Douglas High School, para ajudar durante o tiroteio que matou 17 pessoas – mesmo se não tivesse uma arma. O Presidente terá mesmo dito: “Eu acredito plenamente que teria corrido para lá, mesmo sem ter uma arma”. Foram estas as palavras exatas, por isso o comentário foi recebido previsivelmente com piadas e insultos através das redes sociais. Também os programas de comédia de noite (late-night) fizeram mira aos comentários.
O mesmo artigo refere as respostas por parte de apresentadores de programas de comédia. Começa por referir a reação de Stephen Colbert, no seu programa, The Late Show. A reação foi a seguinte: “Donald Trump é presidente há mais de um ano (…). Neste ponto, vou para a cama todas as noites a acreditar que não há nada que ele possa dizer ou fazer que me surpreenda. Depois o sol nasce, e aconteceu outra vez hoje.” Colbert sugere também que Trump vive num “mundo de fantasia” e procedeu a uma imitação de Trump (com gestos de mãos, lábios estendidos e voz característica), afirmando (enquanto personagem) que teria ganho o Vietname sozinho, apenas com golpes de Karaté.
Entre os vários apresentadores referidos, há ainda outros que não foram referidos. Um dos casos não referidos é Conan O’Brien, que não se expressou com muita importância face a este assunto. Contudo, também ele tem sido um dos maiores críticos de Trump. E tem várias diferenças de outros comediantes.
Segundo o artigo da revista Vanity Fair, Conan O’Brien Doubles Down on the Value of Pure Silliness (2018), Conan O’Brien tem estado muito ocupado a oferecer aos espectadores um tipo diferente de alívio. Priorizando uma tolice vinda do vaudeville em vez de substância, o que foi sempre o suporte de O’Brien. É mesmo sugerido que dado o clima político atual, poder-se-ia pensar que ele seria tentado a equilibrar o seu curso de História Americana de Harvard e comentar profundamente os eventos atuais todas as noites. Mas ele diz que a sua paixão pela democracia americana nunca colidiu com o seu gosto pela comédia.
A personagem de Conan torna-o na piada em si, criando um factor de riso ainda maior e entrega também a performance corporal. Com este tipo de perofrmacne traz um estilo de cómico que não é muito visto na televisão nacional americana: o palhaço.
Nas palavras de Timberg e Erler, em Television Talk: A History of the TV Talk Show, “o talk show permanece uma característica fundamental dentro de qualquer formação económica, social ou cultural da televisão (…) mas estes fatores económicos e simplesmente sociológicos dificilmente explicam a quantidade massiva de atenção que é dada aos talk shows em anos recentes” (2002, pp 9-10). E, de certa forma, “certos talk shows e suas figuras tornaram-se conhecidos titãs enquanto modificadores da cultura americana. “.
Todo o género de talk show está associado à sátira. Note-se as declarações histórias sobre a sátira de Jones e Gray (2009): “definição de sátira está a tornar-se mais obscura assim que a base de fãs aumenta. No seu longo desenvolvimento desde o teatro da Grécia antiga até à página com tinta, a sátira foi um termo reservado para um tipo particular de humor que faz piadas sobre a folia e vícios humanos ao responsabilizar pessoas pelas suas ações públicas. Darwinistas e outros não crentes podem ser tentados a perguntar, «responsáveis perante quem?». Contudo, eles normalmente não o fazem. O riso – uma reação visceral e involuntária que nos faz sentir bem – é uma experiência mais recompensadora do que apontar mais uma prova da existência patética e inútil da humanidade. Samuel Beckett sabia disto quando consentiu o casting de Steve Martin e Robin Williams nos papéis principais (…) em À Espera de Godot. “
Claro que toda a gente tem a sua opinião formada sobre Trump e sobre as mil e umas caricaturas, mas é um facto que a comunicação discerne melhor e dá-nos numa bandeja estas informações e impressões, com algum sal. Aliás, tudo isto pode ser apenas uma forma intelectual de tentar falar do Corona. Mas há outra coisa que se ergue. E eu não queria falar disso, mas é mais forte. E que tal nos entretermos com os mil e um talk-shows nestes dias? Melhor do que ir à praia ou ir a festas muito estranhas que são feitas com máscaras possivelmente roubadas de hospitais. Rimos e ficamos por casa com a família. Obrigado e have fun!