Notei que estás sozinha.
Desculpa, não queria aparecer do nada, deixar-te sobressaltada…mas sabes, não costumo ser assim: uma pessoa atiradiça, atrevida. Sou refém das regras de distanciamento, a pandemia favoreceu os tímidos e os socialmente desajustados. Encaixo na categoria e mesmo assim não consegui deixar de me levantar daquela cadeira ali ao fundo, no canto escuro da esplanada…
Reparei na tua solidão.
Perdoa a insistência mas, se não for agora, não há de ser nunca. E se o há-de perdeu o hífen, então com mil Acordos, não hei de deixar-te escapar por mera vergonha, pela ansiedade, pela iminência da rejeição!
Vejo que não tens companhia! Como?! Isso significa que já só sobras tu… e… rais’ me partam se não pago agora por ti, te levo apertada junto ao meu peito e te devoro no frio imenso do meu quarto! Em cima do sofá, rastejando pelo chão azulejo-autópsia da minha cozinha, enrolados, gordurosos, cravando eu, as unhas de mãos e pés lençol acima até exalar o derradeiro suspiro, ofegante no leito em que deitarei as minhas últimas forças e adormecerei com o prazer da exaustão…o corpo saciado, a mente em conflito…
…amanhã. Amanhã, juro que não volto às rulotes.
Malditas farturas!