Da tragédia resultam duas sensações: a impotência e a consciência de que não se pode prever o perigo. O indivíduo de face oculta e desconhecida passa, então, a assombrar o dia-a-dia. O terrorismo cria, assim, milhares de escravos do medo.
O ser humano teme constantemente que pelo corpo, pelos bens e até pelo mundo à sua volta. O medo é um sentimento que o acompanha ao longo de toda a vida. Vivemos na era do “Medo Líquido”, segundo o sociólogo Zygmunt Bauman. Nesta era, o medo é o rei. E o terrorismo, entre o clima de medo e de insegurança, encontrou um terreno fértil.
Os atentados de 11 de Setembro de 2001 são muitas vezes considerados os maiores ataques terroristas da história. O ataque às torres Gémeas fez parar o mundo e girar a maquinaria do medo. O símbolo do sucesso económico ocidental foi destruído, um acto terrorista ocorreu num território da maior potência mundial e o pânico gerou-se. Seguiram-se outros ataques e o medo permaneceu.
E esse sentimento nunca adormece. Pode estar mais latente num, ou noutro canto do mundo, mas, perante a ameaça do terrorismo, mantem-se acordado.
No início do mês de Janeiro, o atentado ao jornal satírico Charlie Hebdo, onde dois homens fortemente armados entraram na redacção e mataram 12 pessoas, causou grande instabilidade. O clima de medo instalou-se.
De acordo com Zygmunt Bauman, o que causa mais espanto neste sentimento não é o medo das tragédias e dos danos que podem acarretar. O indivíduo, perante os ataques, sente-se impotente por não conseguir prever os novos perigos que surgem constantemente. Assim, surgem duas ideias: nunca se está suficientemente prevenido e as defesas jamais serão fortes o suficiente para derrotar os terroristas. Perante estas, é inevitável: o medo surge.
Os ataques do 11 de Setembro pela Al-Qaeda fizeram o mundo tremer com medo de réplicas do mesmo. Hoje, esse medo não desapareceu. O sentimento de que o terrorista pode estar por perto e de que outro atentado vai acontecer a qualquer momento atinge o ser humano a qualquer instante. O medo torna-se, assim, numa arma de disparo continuo que só precisa de uma activação. Basta um atentado para relembrar: o terrorismo existe. A impotência toma o controlo e o medo instala-se.