Kelis

Quando ouvi Kelis pela primeira vez, não gostei. Corria o ano de 2003, quando vi o clip “Milkshake” do álbum “Tasty”. O som irritou-me e do alto da ignorância que todos temos de vez em quando critiquei alto e bom som o quanto tudo aquilo me parecia uma grande porcaria. Porém, algo ficava no ouvido. E ficou.

Porque tempos mais tarde escutei “Acapella” e pensei como às vezes podemos ser um bocadinho totós e perdermos coisas muito boas. Porque a música é mesmo isto, ou se gosta ou não se gosta, mas tem sempre o poder de transformar e, da mesma forma que não devemos julgar um livro pela capa, também não devemos julgar uma cantora pela primeira impressão.

Hoje em dia, gosto da Kelis. Gosto muito. Gosto da forma directa e crua como avalia a vida, como se transforma enquanto artista, como respira música, simplesmente porque cresceu com ela, como assume a sua feminilidade e sexualidade e como cada álbum é sempre diferente do outro. Todos estes tons pessoais de Kelis se transformam em timbres vocais e expressão musical.

Se o álbum “Tasty” nos trouxe hits como “Milkshake” e “Trick me”, o álbum de dança “Flesh Tone” com participações de David Guetta e Benny Benassi mostra-nos Kelis de uma forma completamente diferente, em aliança com ritmos frenéticos e a consolidação perfeita do que sempre fez: a força da música, a auto-imagem e as personagens que exorciza.

Kelis, sempre reinventiva e guerreira, apresenta no álbum “Food” de 2014, produzido por Dave Sitek, um misto orgânico cheio de instrumentos e voz.

Basta ver o clipe de “Rumble”, onde no meio de um lago surge Kelis com uma cadeira e ao encarar a câmara, solta a voz e a alma conturbada, numa clara referência à relação surreal que vive e ao homem que pede para ir embora, mas que não deseja deixar partir.

Não sei se será referente ao rapper e actor Nas, com quem teve um filho, Knight, e de quem se separou ainda grávida, enquanto gravava, “Flesh Tone”. O mesmo Nas que refere numa entrevista, ao perguntarem-lhe quando é que o seu contentamento finalmente tinha assentado, ela responderia sem hesitar, quando se divorciou.

Kelis, cantora, compositora, também é Chef, tendo passado pela famosa escola de culinária Cordon Bleu, onde se dedicou a aprender a arte de ser Chef Saucier e, na sua mestria e gosto por molhos, criou a sua própria linha “Feast” e participa em séries de TV como “Hell’s Kitchen” ou na sua própria série “Saucy and Sweet” no Cooking Channel. Faz todo o sentido.

 

Share this article
Shareable URL
Prev Post

À distância de um tiro

Next Post

Os bairros históricos de Lisboa

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.

Read next

Namorados

Confesso que não é dos meus dias preferidos por várias razões, mas ainda assim há que assinalar a data, nem que…

DUFFY – Mercy

A cantora galesa Duffy, detentora de um timbre de voz único, desapareceu do meio artístico sem deixar rasto! Não…