Ir à bola

Este texto é sobre futebol e é escrito por alguém que não percebe nem liga absolutamente nada a futebol. Quando era miúda, o Benfica era o clube campeão, o que me levou a ser benfiquista, mas em minha casa pouco ou nada se via futebol. Ao longo dos meus 40 anos de vida, com excepção das loucuras nacionais dos campeonatos europeus de futebol, acho que conto com os dedos de uma mão os jogos que vi do princípio ao fim. Apesar deste pouco interesse que o futebol me desperta, já fui algumas vezes ao estádio assistir a um jogo e aí o caso muda de figura. A experiência de ver um jogo de futebol no estádio é algo que transcende o próprio jogo. É impossível ficar indiferente à paixão colectiva quase palpável que se sente nas bancadas e à alegria contagiante e robusta dos adeptos. O ambiente electrizante que se vive durante uma partida de futebol é transversal e atinge todos. Ir a um estádio ver um jogo é um momento familiar que une desconhecidos e os torna velhos amigos. É gritar até ficar rouco, é abraçar quem está ao nosso lado, é discutir sem razão e desenrolar todo o dicionário em asneiras, é viver intensamente 90 minutos sem externalidades e angústias. Ir à bola é uma experiência inigualável.

Contudo, o mundo do futebol, sendo tão apaixonado e irracional, extravasa as linhas do campo e entra em territórios duvidosos. O futebol foi transformado em negociatas milionárias pouco claras e em guerras de claques transformadas em gangues. A missão saudável do desporto foi posta em segundo plano e deu lugar a interesses mafiosos. O ruído que se faz ouvir à volta do futebol é contrário ao próprio futebol. O futebol deixa de ser interessante e autêntico e passa a ser um circo sem a mínima noção de sensatez onde muitas vezes impera a violência e a corrupção.

No que me diz respeito, esta confusão em que o futebol está constantemente mergulhado, faz com que o mesmo perca encanto. Custa-me perceber em que parte da história do desporto se decidiu pôr de lado uma dinâmica saudável e familiar e se passou a achar normal gerir o futebol como uma máfia. Há algumas semanas, levei o meu filho de 6 anos pela primeira vez à bola e sei que foi uma noite que lhe ficou na memória como uma noite feliz e em família. É assim que o futebol deve ser vivido.

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