Inovações e novas regras do jogo

A máquina fotográfica digital substituiu a máquina fotográfica analógica. O cinema foi ameaçado pelo VHS, pelo DVD, pelo Blu-ray e pelos downloads. E o Netflix vem – depois de já ter alterado as regras do jogo noutros países – desestabilizar as operadoras de TV Cabo e o cinema. Estes novos produtos transformaram o mercado e levaram à ruptura do anterior padrão de consumo.

Entram no jogo, captam novos clientes, desestabilizam os concorrentes e alteram as bases de competição. Rompem com o modelo de negócio existente até ao momento. E, por isso, são merecedoras do nome com que foram “baptizadas” por Clayton Christensen: “inovações disruptivas”. Estas inovações são geralmente algo mais simples, mais baratas e de fácil utilização. De acordo com um professor da Harvard Business School, estas inovações alteram a proposição de valor do mercado.

A máquina fotográfica digital é um exemplo clássico. O produto chegou ao mercado e substituiu as máquinas analógicas. Apresentando uma solução mais eficiente, causando graves danos em grandes marcas, como a Kodak. Além disso, provocou um declínio das lojas de revelação e de outros negócios do sector. A nova tecnologia levou à falência de empresas, ao despedimento e a quedas no lucro. E são precisamente estes os efeitos colaterais de muitas das inovações disruptivas.

Contudo, se por um lado têm efeitos nefastos nas empresas previamente estabelecidas no mercado, por outro lado também aumentam o leque de escolha do consumidor. O cinema, por exemplo, foi ameaçado pelo VHS, pelo DVD, pelo Blu-ray e pelos downloads. Assim, o consumo de produtos audiovisuais deixou de estar confinado às salas de cinema, dando ao consumidor a possibilidade de escolha. À indústria cabe arranjar estratégias para convencer o público de que a sala de cinema é a melhor opção.

O acelerado ritmo de mudança obriga a que as organizações instaladas no mercado se reinventem para sobreviver e, por isso, são muitas as que apostam na inovação. Algumas optam por controlar os riscos e melhorar um produto ou serviço, atendendo às necessidades dos clientes mais exigentes e obtendo uma maior margem de lucro por produtos de maior qualidade. Outras optam por oferecer uma solução que não existia até ao momento. As primeiras optam por aquilo a que o professor da Harvard Business School denomina de “inovações sustentadoras” e as segundas por “inovações disruptivas”.

No entanto, as inovações disruptivas são particularmente interessantes para novas empresas, já que, dando uma resposta inesperada a uma necessidade do consumidor, ameaçam os líderes de mercado já existentes. O Netflix – que chega a Portugal a 21 de Outubro – vem precisamente dar uma resposta deste tipo. Uma resposta que não era dada por outros serviços e que vem destabilizar os concorrentes. O acesso a filmes e a séries em qualquer momento e lugar acabará por prejudicar o modelo de negócio das operadoras de TV Cabo e – para não variar – do cinema. Os concorrentes terão que arranjar estratégias para tentar manter a sua posição de mercado. Por isso, já foi lançado o N Play. O serviço é idêntico ao que estará disponível em Portugal no final deste mês de Outubro e pretende impedir que os clientes migrem da NOS para o Netflix.

A introdução de uma inovação disruptiva no mercado acaba por alterar completamente “as regras do jogo”. Para que as empresas possam continuar a jogar, é preciso antecipar cenários, olhar para as oportunidades escondidas e recorrer a soluções inovadoras.

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