Como diz o povo “há males que vêm por bem” e se há algo que a crise nos tem ensinado é que já não é seguro viver comodamente com a ideia de que o nosso emprego de dois, de cinco ou de dez anos é para toda a vida. A palavra de hoje é sem dúvida mudança. Aliás, a nova geração tem consciência desta nova realidade do mercado laboral, sendo mesmo, um dos seus traços mais particulares a versatilidade – ninguém mais faz só uma coisa e tem um só interesse. A vida é feita de interrupções e os jovens sabem disso, daí o aparecimento dos projectos extra.
Ter simultaneamente mais que uma carreira profissional ou actividade é um fenómeno recente, causado não apenas pela necessidade de aumentar os rendimentos, mas também, pela vontade de experimentar novos e diferentes desafios. Há quem defenda este novo trabalhador alegando que são pessoas mais automotivadas e que isso é uma clara vantagem para a empresa, por outro lado, há quem argumente que uma actividade paralela acaba, sempre, por ter influência no trabalho, sendo prejudicial tanto para o empregado como para o empregador.
A brasileira Maria Candida Baumer Azevedo, especialista em carreiras paralelas e sócia fundadora da People & Results, empresa especializada em ajudar outras empresas, é uma das pessoas que defende esta nova postura do trabalhador do séc. XXI: “é muito bom para as empresas que sabem conviver com funcionários multifacetados e ultra informados e, muito bom, para as pessoas que tiram sua alegria de diversos lugares”.
As vantagens são na sua opinião imensas, quando a empresa reconhece que as pessoas com projectos paralelos são mais motivadas, uma vez que se reflecte na produtividade. Seja pela aprendizagem de novas competências que venham a ser aplicadas no trabalho, seja pelo aumento da confiança e na capacidade de decisão, uma actividade extra faz com que o trabalhador seja melhor.
Existem, inclusive, grandes empresas que já instituíram um dia da semana para os funcionários trabalharem em projectos paralelos. É o caso do Google ou da FedEx. Aliás, devido a este último caso, outras empresas americanas adoptaram esta estratégia e denominaram-lhe de “FedEx Day”.
Com uma posição bem diferente, temos os autores do livro Just Start: Take Action, Embrace Uncertainty, Create the Future: Leonard Schlesinger, Charle Kiefer e Paul Brown. Segundo estes estudiosos americanos as pessoas entusiasmam-se quando têm actividades extra, logo não dão tudo de si mesmas o que acaba por ter consequências no trabalho; prejudicando tanto o trabalhador como a empresa. “Tudo o que começar para além do seu trabalho deve estar fora do horário de expediente. Se fizer isso durante o horário de expediente pode ser demitido, e, francamente, nós acreditámos que você merecia”, afirmam.
Um exemplo: “se é um engenheiro de software de sistemas operacionais que passa parte do dia trabalhando em sua grande ideia para um novo jogo de vídeo, merece ir para o desemprego. Se a sua paixão para a criação de algo novo é muito abrangente, então saia e perseguia-a. É a única coisa sensata a fazer”.
O motivo apontado é simples: no contrato com a empresa é estipulado que o tempo despendido é pago, assim sendo, “se você estiver a trabalhar noutra coisa, em horário de trabalho, não está cumprindo a sua parte. Está roubando”.
Óbvio que estes três estudiosos consideram ser “óptimo” quem conseguir consolidar tudo, porém admitem: “se conseguir render mais do que os 100% prometidos ao chefe, melhor”. Sim, porque consideram que há primeira oportunidade a empresa descarta este trabalhador restando, apenas, quem dá 100% de si, quem fizer horas intermináveis, quem responder a e-mails durante as férias raras e atender chamadas durante a noite.
Independentemente da nossa posição, acerca deste tema, é certo que um projecto extra, como uma licenciatura ou aprender um idioma novo, exige equilíbrio para se ter sucesso. Ninguém consegue, por exemplo, escrever um livro dedicando apenas uma ou duas horas por semana, é necessário, acima de tudo, dedicação. Mas, sobretudo, cuidado em não invadir o “tempo sagrado”, essencial para o descanso, a alimentação e o bem-estar. No fundo o que é preciso é saber dominar a arte de bem gerir o tempo.