Googlo, logo sei!

Em ambiente profissional dizemos que mais importante do que sabermos é conhecermos quem saiba.

Nesta era digital, o “Google” e outras plataformas, são quem identificamos de imediato de entre os nossos conhecidos como “sabedores”. Mesmo quando estamos com um conjunto de pessoas, a maior parte das vezes pedimos ajuda ao “Google” para confirmar ou não o tema que está a ser debatido.

Ao usarmos a muleta do “Google”, ou outras plataformas, para além de não exercitarmos os neurónios, a maior parte das vezes, também não acreditamos no nosso instinto, naquela primeira resposta inconsciente que em determinada situação nos assola de imediato.

O instinto é o resultado da sabedoria, que obtemos pelo raciocínio imediato e inconsciente que fazemos com base no acumular de experiências e vivências, da absorção de conhecimento técnico, emocional e experiencial, e que nos faz saber como agir em determinadas situações.

Sabedoria é a soma do processamento de informação que recolhemos no nosso dia-a-dia, em todas as valências da nossa vida, seja pessoal, familiar, profissional ou lazer, que decorre de modo diferente e de acordo com a personalidade, forma e prioridades de cada ser humano.

Viver e ser é mais do que jogar ao “Quem quer ser milionário” com a ajuda constante do “Google”. O “Google” é o baú guardado nos arrumos, empilhado de coisas até ao limite. De cada vez que precisamos de alguma coisa temos de estar dispostos a vasculhar o baú e procurar minuciosamente o que nos faz falta, porque “à mão” está o que alguém antes de nós procurou e que na maior parte das vezes não é o que procuramos.

O “Google” é um tarefeiro que nos devolve o que lhe pedimos, mas que não analisa, nem interpreta a informação que nos dá. Este processamento tem de ser feito pelo ser humano. O “Google” não toma decisões, não decide o que fazer, não interpreta reações, o “Google” não sente.

Na era digital obtém-se conhecimento como sempre se obteve, pela vivência humana e pela troca de vivências entre os humanos.

E para viver e trocar vivências, o ser humano tem de estar disponível para:

  • Aprender uma coisa nova todos os dias, e procurar obter esse conhecimento de maneiras diferentes.
  • Refletir sobre o que aprende, enquadrar, relacionar.
  • Humanizar a forma como se relaciona com os outros, perceber como os outros fazem, como agem, como escolhem, e aceitar que o façam de um modo diferente do nosso.
  • Ser curioso e querer saber sempre mais e porquê.
  • Ir a lugares diferentes, como experimentar um restaurante novo, uma comida diferente, vestir uma peça de roupa diferente, etc. Sair da rotina, experimentar antes de dizer que não gosta.
  • Falar com pessoas com quem não tem confiança, usar desbloqueadores de conversa, permitir-se conversar com pessoas fora do âmbito usual.
  • Estudar coisas fora da área profissional.
  • Encontrar pessoas sábias, conversar muito, ouvir, e aceitar que as pessoas sábias também erram.
  • Ler, é uma ferramenta para absorver perspetivas diferentes das nossas.
  • Ser humilde. Ouvir. Perguntar. E ouvir.
  • Pensar antes de agir.
  • Identificar e assumir os erros cometidos sem culpabilização.
  • Partilhar o que sabe.

Sócrates (sec. V AC) dizia que “a única sabedoria de verdade está em saber que não se sabe nada.”

O exercício humilde de aceitar que não sabemos nada, é o maior ato de sabedoria de ser humano e também a maior frustração, já que independentemente da idade, vivências e sapiências que os anos construíram, a sabedoria só é infinita se for partilhada.

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