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Ler para crer?

 

Será? Já lá voltamos.

Esta crónica esteve para se intitular “A Culpa é de Gutenberg” – desde que este, no séc. XV, aperfeiçoou a prensa móvel e os tipos móveis (caráteres avulsos gravados em madeira ou chumbo que podiam ser agrupados letra a letra, formando, assim, as palavras e os textos desejados).

Nos nossos dias, Imprensa designa o conjunto dos meios de comunicação que desenvolve o jornalismo ou outras atividades de comunicação informativa. Imprensa deriva da palavra prensa, a tal de Gutenberg, que se usava para imprimir os jornais, os primeiros meios de difundir noticias. Hoje, o termo Imprensa engloba todos os outros meios de comunicação: rádio, televisão ou jornais online.

Contudo, deixemos o senhor em seu descanso.

Não sou contemporâneo de Gutenberg, mas ainda sou do tempo em que jornais e revistas eram garantia de qualidade na escrita, e acima de tudo, rigor, fiabilidade e veracidade nas notícias. Além de ficar com as pontas dos dedos pretas da tinta da impressão, o que se lia no Diário de Notícias ou no Expresso, por exemplo, era garantia de verdade, de fontes confirmadas. Era a realidade.

Sim, uns anos antes, anteriores a abril de 1974, havia a censura. Tudo o que era publicado passava primeiro pela aprovação do lápis azul, nome que se dava ao crivo da PIDE, a polícia política da ditadura. Não só as notícias dos jornais, mas também filmes, peças de teatro, letras de músicas, livros, etc., tudo tinha de ser avaliado pela polícia política para se comprovar que não havia desvios à doutrina de Salazar.

Doutrina essa que, por um lado, exaltava os bons costumes e os valores da família e os 3 F’s (Fátima, Futebol e Fado), por outro, prendia, torturava, espancava, humilhava, matava, fazia desaparecer homens e mulheres, só porque ousavam ter ideias diferentes e não coincidentes com as da ditadura. Aconteceu também o mesmo a muitos inocentes denunciados pelos chamados “bufos”, apenas por uma questão de vingança ou quezília pessoal ou até para afastar um rival amoroso.

A PIDE não autorizava qualquer letra ou virgula que pudesse pôr em causa ou pressupor qualquer tipo de contestação ao regime. As notícias de acontecimentos vindos do estrangeiro eram praticamente inexistentes, não fosse o povo ter ideias. Manter o povo na ignorância para mais facilmente o dominar.

Tirando países onde não há liberdade de expressão, nos países democráticos a censura é quase inexistente. Será? Numa altura em que muitos se esquecem que a história tem de ser enquadrada no contexto em foi vivida, quando se fala em reescrever manuais escolares, livros de história ou mesmo grandes obras da literatura, amputar filmes ou mesmo proibi-los, não será tudo isto uma forma de censura mais ou menos disfarçada?

Outra questão que tem afetado a Imprensa são também as fake news que desde sempre tem contribuído manipular audiências. Sim, o termo em inglês pode ter sido popularizado por Donald Trump mas o conceito é antigo. Muito antigo.

Fake news são afinal notícias falsas, inventadas ou distorcidas da realidade, mas apresentadas como uma notícia credível e normal.

A história está cheia de mentiras para manipular opiniões públicas, multidões, povos inteiros. No império romano ou na Revolução Francesa, na I Guerra Mundial ou na Guerra do Iraque. Quem não se lembra da Cimeira das Lajes e da decisão de invadir o Iraque, porque Saddam Hussein teria supostamente escondidos arsenais de armas de destruição massiva, algo que anos mais tarde acabou por ser desmentido?

Na guerra da Ucrânia, nomeadamente na Rússia, foi proibido o uso do próprio termo ”guerra” -censura- e pelas notícias veiculadas pela comunicação social – fake news -, os ucranianos são nazis e culpados pela invasão do próprio país.

O conflito Israel-Hamas, (que estou plenamente convencido ter dedo, os cinco dedos das duas mãos de Putin para desviar as atenções da sua guerra com a Ucrânia; desde dia 7 de outubro que as notícias são quase integralmente preenchidas com comentários e diretos de Israel) é já considerado por muitos a guerra das mentiras, tal o nível de propaganda e de desinformação e contra desinformação que tem sido divulgada.

Entretanto, a WEB veio revolucionar o mundo e todo o modo de vida.

Hoje, qualquer smartphone é uma prensa no sentido em que se pode difundir o que se quiser. Qualquer um de nós pode efetuar uma publicação nas redes sociais e no segundo em que partilha, pode ser lida em todo o planeta. Qualquer um de nós pode inventar uma notícia, manipular qualquer foto ou vídeo ou difundir uma informação, um rumor, um diz que disse, sem qualquer confirmação, sem qualquer fundo de verdade.

Já dizia Joseph Goebbels, o ministro da propaganda nazi: “uma mentira contada mil vezes…”

Em resumo, a imprensa sempre foi um meio apetecível para o poder, percebendo este que era o meio ideal para “vender” uma ideia, divulgar uma ideologia, cativar apoiantes, manipular povos.

Como nos podemos defender destas mentiras, destas notícias falsas? Ler toda a história e não só o título; confirmar se o autor identifica as fontes; verificar a identidade do autor; pesquisar outros sites ou outros meios de comunicação. E ter sempre sentido crítico. Não é infalível, mas talvez ajude.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico
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