A geometria está presente no nosso mundo e quotidiano. Esta área da matemática ajuda-nos no sentido de localização e também no reconhecimento e manipulação de figuras, por exemplo.
Eu nunca gostei de matemática e muito menos de geometria. Acho que não caí de amores quando nos apresentaram.
Não obstante, em Julho deste ano, li uma frase que dizia que em Portugal “as tradicionais rendas, os bordados, a cestaria, a calçada portuguesa, encerram em si uma geometria subjacente a algumas expressões da nossa cultura tradicional.”
Nunca me tinha debruçado por tal coisa. Aliás, acho que a minha cultura neste aspecto deixa a desejar!
As questões que se punham no resto da afirmação eram as seguintes:
“Que tradições são estas? De que forma é que a geometria entra na sua criação? O que revela esta geometria sobre a nossa cultura?”
Passei estes meses a pensar, a pesquisar e a formular uma opinião. Não cheguei ao fundo da questão. Não, como gostaria.
Descobri que a calçada portuguesa como hoje a conhecemos remonta ao século XV e surgiu por dois motivos: prática e conveniência. Descobri, também, que os seus desenhos surgiram como forma de homenagear os descobrimentos portugueses: caravelas, conchas, rosas dos ventos, peixes, ondas, estrelas-do-mar.
Os calceteiros colocavam pedra sobre pedra com uma picareta.
Lembro-me muito bem de passear com a minha avó por Lisboa. Costumava passar pelos Restauradores e olhar para o chão, e mentalmente fazia um jogo “primeiro só posso pisar os desenhos, depois só posso pisar o que está a branco”. E lá ia eu como uma pulguinha saltitona pelas ruas da capital.
A geometria destes desenhos é um património cultural, que vive ao longo da história e geografia do nosso Portugal. E vive na minha infância.
A calçada portuguesa repleta de motivos tradicionais e aspectos geométricos notáveis é também atrativa e paisagística. É como um tapete que cobre as nossas ruas tornando-as tão distintas.
E como não só de calçada vive a cultura em Portugal, lembro-me perfeitamente dos bordados e rendas que habitavam na casa dos meus avós e dos meus bisavós. Os tapetes de arraiolos, os quadros em ponto cruz com o nome de cada neto…
Talvez eu tenha mais desta cultura do que imaginava, porque não a pensava dessa forma.
A geometria na cultura portuguesa, na minha opinião, representa a capacidade de adaptação e criação. É a curiosidade e coragem pelo novo, e a arte de tornar algo comum em algo belo. Tornando, ainda, o que é belo em algo do dia-a-dia, faz sentido?
Quem me conhece sabe que eu sou uma apaixonada pelo handmade. E é isso que esta geometria encerra. As mãos e a criatividade de quem vive em Portugal.