Evangelho do Euro segundo Mario Draghi

Fé inabalável e sinceridade desarmante. Assim pautou o mandato do ex-presidente do Banco Central Europeu, Mário Draghi, que tomou as rédeas do barco europeu num momento em que a crise questionava a própria estrutura da zona Euro e fez muitos se interrogarem sobre qual o futuro para a Europa.

Com um discurso destemido, espelhando a tenacidade e convicção do seu carácter, Draghi deparou-se com uma situação caótica na economia europeia, que em nada diminui a sua confiança numa Europa unida. Mais que uma vez, o presidente do BCE afirmou que faria “o que for preciso” para garantir a estabilidade da zona Euro e sua moeda, não se demitindo da responsabilidade que cabe à mais alta instância financeira europeia, sem não antes salientar que o BCE não é o único que tem obrigações a cumprir.

Crente nas palavras que prega aos seus discípulos, Draghi já revelou as previsões para a economia europeia na segunda metade do ano. “Nós esperamos uma recuperação gradual da actividade económica da zona do euro no segundo semestre do ano, mas este cenário está sujeito a riscos”. E é neste risco que toda a confiança e fé de Draghi na UE pode sofrer um revés.

Na Itália, a insegurança política continua a minar a confiança dos italianos. Avançado no mediterrâneo, o Chipre é a mais recente vítima da indisciplina orçamental a se juntar às outras economias combalidas. Boatos ou rumores, a próxima vítima deste mal, que parece ser comum a muitas nações da UE, já foi identificada e dá-se pelo nome de Eslovénia.

Nos restantes países da zona Euro, a eterna discussão entre austeridade e crescimento mantém-se, espelhando a dificuldade em alcançar um consenso no bloco europeu. Multiplicam-se as vozes de Chefes de Estado, economistas de renome e até directores de algumas das instituições financeiras mais importantes do mundo – como é o caso de Christine Lagarde – que começam a reconhecer os danos colaterais de uma política de austeridade.

Portanto, Draghi tem escrito o seu evangelho sobre a zona Euro com firmeza num cenário de descrença e instabilidade. Agora a sua próxima batalha é que a legislação para que haja um supervisor único e comunitário da banca europeia esteja concluída até ao verão, para assim a controlar a actividade dos bancos.

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