O símbolo do dinheiro

Não é novidade. É quase Natal. De mansinho somos bombardeados pelas musicas natalícias, pelas ruas coloridas, pela publicidade tentadora das possíveis ofertas. Uma das épocas que mais gosto, mais que não seja pelo kitsch da família reunida, transforma-se num pequeno pesadelo. Porque me lembro que o meu dinheiro não vai conseguir esticar para tudo, porque há uns aniversários pelo meio, muitas e muitas jantaradas de natal e sim, porque gosto que a família e os amigos tenham a barriga farta e olhos contentes.

Esta é a minha realidade e a minha realidade não é das piores, se a comparar a outras que conheço. É no Natal que me apetece amaldiçoar a minha conta no banco, que quando levanto dinheiro nunca tiro o talão do saldo para não ficar rabugenta, que começo a fazer contas, porque sei que janeiro vai ser um daqueles meses. E o ciclo recomeça: vem depois o seguro do carro, o IMI, a inspecção, o selo e todos os meses do ano seguinte tem contas a pagar e surpresas inesperadas. Viva o Ano Novo!

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Não sou especialista em economia. Sei que sou perfeccionista, que uso agenda (sim, as de papel), faço a gestão mensal das minhas contas e tenho até algum prazer nessa parte. Já comprei uma vez um Kakebo, não gostei nada daquilo, tenho a mania do controlo e tornou-se um caso sério…

Sei também que o país está em crise, a Europa esbardalhou-se. Há uns senhores esquisitos engravatados e umas senhoras que me fazem lembrar generais, empresta-se dinheiro às nações e são atribuídas regras de restrição, unicamente para que as nações fiquem cada vez mais sem dinheiro.

Disseram-me que a culpa é dos bancos. Dos portugueses que não gostam de trabalhar e que temos muitos feriados. Dos políticos. De uma parafernália de coisas que enchem as cabeças de teoria e as bocas de muita gente de fome e da ausência de essenciais que lhes pertencem por direito.

Quando me perco nestas ideias, pergunto-me sempre para que serve o dinheiro. Se realmente faz falta. O mundo poderia perfeitamente viver sem dinheiro. Porque não haver um banco central com um X estipulado a distribuir irmãmente por todos os países e, por sua vez, a todas as pessoas de cada país? Porque não acabar de vez com o dinheiro e trocarmos as calças de ganga por uma perdiz ou um café por um kilo de farinha?

Mas caio em mim. E chego à conclusão que não sou contra o dinheiro. O dinheiro é um símbolo e já li teorias que a mesma nota de €50 pode estar em dois lugares ao mesmo tempo, porque o nosso dinheiro está diluído no sistema bancário. É necessário e se bem gerido a todos os níveis, ajuda no equilíbrio e na salubridade de um sistema social.

O verdadeiro problema não é o dinheiro. Somos nós. São os jogos de poder, a ganância e esta ideia simbólica de que se eu tiver mais dinheiro do que tu sou muito melhor. O verdadeiro problema em relação ao dinheiro é o nosso ego. O pessoal. O geral.

Nascemos e morremos sem dinheiro, mas nesta nossa existência temos de aprender a viver com ou sem ele, numa experiência que se descobre cada vez mais virtual, simbólica e quântica. É na nossa convivência com o dinheiro que o ego mais se intromete, onde aprendemos mais lições, essenciais ao nosso potencial e generosidade, enquanto ser humanos e enquanto sociedade.

Assim nos descobrimos mais ricos.

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