Escola da vida

O que é a escola? Parece uma pergunta simples e, no entanto, não consigo responder tão facilmente. Todos nós nos lembramos dos nossos tempos de escola e as memórias desses tempos também podem ser mais ou menos felizes, conforme as vivências de cada um.

A verdade é que esse tempo já passou e muitos de nós pensarão “ainda bem”. A primária é a etapa inicial da qual possivelmente nos lembramos com mais nostalgia. Só nos voltamos a deparar novamente com toda essa dimensão, se e quando temos filhos que iniciam eles também o seu percurso escolar.

Antes sequer de porem os pés na escola, já nós projectamos os alunos brilhantes que vão ser, uma vez que, claro está, as nossas progenituras são muito inteligentes. É aqui que devemos aperceber-nos que começa o nosso erro de raciocínio. O erro não é pensar que são inteligentes, isso são-no sem dúvida. O erro é associar o “ser inteligente” com “ter nota máxima” de acordo com o sistema de avaliação em vigor, desde os primórdios do ensino público.

Em tempos, a escola serviu como sítio onde deixar os filhos de operários no tempo da revolução industrial para prepará-los a serem eles também operários preparados. Conseguem ver a semelhança com os tempos de hoje? Acham que é descabido ou que se trata de uma caricatura? Pois, eu vejo cada vez mais o quanto essa é a verdade gritante que não estamos a ver.

Em tempos, havia um professor à frente de uma turma, com os alunos todos virados em reverência para a figura de autoridade. A matéria era debitada e os alunos tão bem quanto possível cumpriam com as tarefas assimilando os conteúdos. Devo continuar a escrever no passado? Não sei bem. Sei que já há perspectivas diferentes e muito poucas escolas conseguem aplicar um sistema alternativo. Isto muito mais depende do docente do que propriamente da escola onde se insere. E não quero aqui abordar o papel do professor que muito tem sido injustiçado também.

Quero antes abordar a questão de os alunos não serem “carneirinhos” uns iguais aos outros. Há múltiplas formas de aprendizagens e uns conseguirão um rendimento melhor ou pior conforme a adequação do método com a sua própria natureza. Por outro lado, o ser humano aprende muito mais através da experiência e a experiência é uma vivência desdobrável em tantas perspectivas quanto o número de pessoas a experimentar. A escola não deve ser confinada a quatro paredes como um laboratório estéril, onde os alunos ficam horas a fio sentados nas carteiras de lápis de carvão na mão.

E o que dizer da quantidade de conteúdos que é suposto absorverem? Quem é que se recorda de tudo o que foi ensinado? Atrevo-me a dizer que aquilo de que mais nos recordamos será aquilo que continuamos a aplicar no nosso dia a dia ou estará ligado a uma área pela qual temos um gosto ou interesse especial. Será que nos dias de hoje, onde temos acesso à informação a qualquer momento, temos de ser enciclopédias vivas? Não será mais benéfico desenvolver outras competências como a colaboração, a comunicação, a solidariedade? Começar a olhar para a individualidade de cada um e valorizar e desenvolver as aptidões individuais?

Para quê querer padronizar todos? Para termos robôs? Sacrificar e desvalorizar talentos que ficarão para todo o sempre em estado embrionário, um sonho nostálgico como muitos outros sonhos ou crenças de criança que se perderam pelo caminho à medida que crescemos?

Não faltarão exemplos de pessoas que foram catalogadas como fracassos na escola e mais tarde se revelaram grandes talentos nas artes, negócios ou ciências. Todos procuramos aceitação, principalmente por parte dos outros, é o efeito de grupo – microssistemas que se iniciam com a escola. Muitas vezes, só nos aceitamos conforme formos validados pelos outros, de acordo com os padrões da sociedade que tenta produzir cópias. No entanto, quando volta e meia aparece um exemplo fora de série, os holofotes mudam de direção. Curioso não é!

Voltemos aos nossos filhos, àqueles que tão bem conhecemos. Todos nós queremos o melhor para eles e, para mim, isso significa que sejam felizes. É claro que aprender a ler, escrever e contar é importante. Principalmente, porque lhes permite experienciar dimensões da vida de forma mais profunda. Não me preocupo com as notas que os meus filhos possam tirar, mas, sim, que aprendam o valor do esforço, do empenho e da dedicação. Se aprenderem isso, poderão ser e fazer aquilo que mais querem.

Somos seres em desenvolvimento constante, este não termina com a escola ou com a nota final de curso. O ensino formal é apenas uma parte da vida, a vida é que é a verdadeira escola – holística.

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