Humilhar os Filhos

Os vídeos que apareceram nas redes sociais, este Verão, nos quais pais humilhavam os seus filhos, revoltaram-nos e com razão. Quantas vezes não andamos pelas ruas, ou num espaço público e não vimos esta mesma situação? Os pais a baterem e a dizerem palavras que humilham os filhos à frente de toda gente? Será que isso faz com que eles se comportem melhor? Será que os ajuda a crescer?

“A humilhação, seja pública ou privada, é uma estratégia que não é nova, mas que muitos pais (infelizmente) empregam para tentar disciplinar os seus filhos e actualmente muitos estão a fazê-lo em público, aproveitando inclusive as redes sociais”, afirma a psicopedagoga, María José Roldán, no site guiainfantil.com.

A psicopedagoga continua dizendo que tanto a humilhação, como a vergonha não terão consequências positivas nas crianças. Pelo contrário, têm consequências negativas e graves para as crianças, para além de que a confiança que terão nos pais será cada vez menor, quebrando a relação que estes deveriam ter com os filhos: uma relação de apoio.

No manual de acção Erradicando o castigo físico e humilhante contra a criança, publicado por Save the Children Suécia e Aliança Internacional Save the Children, diz-se que é preciso eliminar os castigos físicos e humilhantes, porque, para além de serem uma violação dos direitos humanos da criança à integridade física e dignidade humana, estes podem causar danos físicos e psicológicos, ensinam “à criança que a violência é uma estratégia aceitável e apropriada para resolver conflitos ou persuadir”, dificultam a protecção da criança, para além de que muitas vezes é um meio ineficaz de disciplina.

As consequências físicas, que “podem variar entre a dor física, cortes e arranhões pequenos, até danos sérios que resultem em incapacitação física crónica”, são as mais visíveis, no entanto, há também as consequenciais psicossociais que podem perdurar, durante muito tempo na vida da criança, enquanto adolescente, mas também adulto. Diminuem a auto-estima, interferem no processo de aprendizagem, estimula a raiva, vêem a violência como um comportamento aceitável, gerando mais violência, torna as crianças mais solitárias, fazem com que se sintam tristes, ou abandonadas criando também barreiras que impedem a comunicação com os outros.

A publicação destas situações nas redes sociais implica ainda uma outra consequência: María José Roldán afirma que é “uma humilhação que pode alcançar muitas pessoas em questão de minutos e acaba sendo uma atitude que poderá durar para sempre. O dano à reputação de uma criança pode ser feito somente fazendo um ‘clic’ em cima de uma foto. “

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