Se pensava que Skyfall era até agora o melhor filme moderno da série de James Bond, engane-se. Com SPECTRE, o filme mais caro de toda a saga e também aquele que dispõe de mais marcas, encontrou um parceiro à altura.
Após receber uma mensagem enigmática do passado, James Bond é conduzido numa missão independente à cidade do México, passando por Roma, até descobrir o local onde se situa a sinistra organização que, no mesmo jeito de Missão Impossível – Nação Secreta, espera destruir o mundo utilizando as tecnologias mais inteligentes.
Por sua vez, conhece Lucia Sciarra (Monica Bellucci, no papel de uma viúva), que lhe indica um caminho recheado de encruzilhadas, sem dó nem piedade. Após descobrir que também o seu anterior inimigo Mr. White, (Jesper Christensen) integra a organização, James Bond fará de tudo para a derrubar, mas antes terá que se confrontar com o sombrio homem de negócios Franz Oberhauser (Christoph Waltz). É nesse caminho de reencontros que conhece Madeleine Swann (Léa Seydoux) uma jovem médica que prometeu proteger. Paralelamente, em Londres, o MI6 liderado por M (Ralph Fiennes, que substituiu Judi Dench) entra em crise, quando o novo chefe do Centro para a Segurança Nacional, Max Denbigh (Andrew Scott), coloca em causa o programa 00 e espera substitui-lo por drones, daí que Q (Ben Whishaw) e Moneypenny (Naomie Harris) decidam ilegalmente ajudar James Bond na sua demanda.
Por terreno obscuro, 007 confronta-se com os segredos da sua juventude, no período seguinte à morte dos pais. Saímos de uma narrativa centrada no complexo de Édipo, para enfrentar o devir de temores inconscientes, patentes não apenas no protagonista como em Madeleine – que não superou o trauma da morte -, e em Oberhauser, que nunca controlou o seu ciúme. Além disso, a dimensão psicológica intensifica-se de imediato na cena de abertura, anunciando que “os mortos estão vivos”. Numa passagem de tons frios do anterior capítulo para tons mais quentes, é-nos oferecido um arrojado plano-sequência de cortar a respirar, cuja visualização em IMAX é muito mais envolvente – a magistral tarefa é da responsabilidade do recém-nomeado a um Óscar, Hoyte Van Hoytema.
O sentimento de medo está omnipresente no guarda-roupa, como por exemplo em Madeleine que deixa de utilizar tons escuros para um figurino mais claro, no momento em que se percebe das verdadeiras intenções de Bond. Nesse contexto, surge ainda a banda-sonora de Thomas Newman, ágil em imitar os ritmos tradicionais dos países em que a acção se desenrola – só em Inglaterra as músicas acarretam um certo classicismo, como vemos no tema de abertura “Writing’s on the Wall” de Sam Smith, que serve de carta de amor à saga. Destaque ainda para os espelhos/reflexos dos rostos das personagens, que transmite a dificuldade que as mesmas têm em se conhecer.
Spectre é um filme perfeito para o género, mas o seu problema prende-se essencialmente com alguns estereótipos que parecem estar inscritos na parede. Não é novidade aquilo que as narrativas de James Bond transpõem no ecrã, mas na verdade fazem-nos pensar cada vez mais sobre o carismático poder da indústria cinematográfica de Hollywood. Enfim, Spectre concilia puro entretenimento com objecto de arte clássico, concretização tão injustamente entendida nos dias de hoje.
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