book lot on table

Diz-me o que lês, dir-te-ei quem és

Ler é um dos processos cognitivos mais complexos. Primeiro ensinam-nos as letras. Depois começamos a juntá-las, a decifrar frases e a compreender textos. Então, a magia acontece. A leitura e o envolvimento com as palavras vai muito além de uma habilidade técnica. É uma viagem individual, íntima e sempre transformadora. Desde os primeiros momentos em que deciframos palavras e frases, até às profundezas das histórias complexas que mais tarde nos envolvem, cada etapa da leitura contribui para a formação do nosso ser e da compreensão do mundo.

As primeiras histórias que lemos ou ouvimos são os contos de fadas, ou narrativas do “faz de conta”. Esses contos, como, por exemplo, O Polegarzinho ou Hansel e Gretel, transportam-nos para reinos encantados onde o belo e o cruel coexistem de maneira quase indissociável. Através dessas narrativas, construímos conceitos do bem e do mal. Aprendemos a amar algumas personagens e a rejeitar outras, ora de maneira muito clara, ora de uma forma que só percebemos mais tarde na vida.

Cada livro que lemos, cada artigo que absorvemos, constitui uma peça de um ‘puzzle’ que forma a nossa identidade. Seja mergulhando num romance que nos transporta para mundos desconhecidos ou explorando textos técnicos que ampliam o nosso conhecimento, a leitura, inevitavelmente, leva-nos a uma viagem de autodescoberta. Cada experiência literária deixa uma marca única no nosso ser. O autoconhecimento e a exploração do que somos definem de forma indelével o que queremos ser, ou o que nos indigna e não toleramos.

O envolvimento e, por vezes, a cumplicidade que estabelecemos com as personagens e com as situações ecoam na consciência, nos sonhos e nas expectativas. Daí podermos validar experiências e sentimentos, reforçando a certeza de não estarmos sós quando, não raras vezes, lutamos internamente com as nossas crenças e valores.

As viagens por locais diferentes polvilhados de culturas diversas, assim como, o conhecimento de realidades quanto a opções políticas, emocionais ou sexuais, permitem reflexão e flexibilidade numa lógica de inclusão. Olhar o outro, pelas páginas da ficção ou de exemplos reais, despoleta a reflexão e promove a flexibilidade de pensamento. A aceitação do outro dentro num espírito aberto e crítico libertam-nos de preconceitos ético-morais e religiosos. São momentos desafiadores que de outra forma estariam adormecidos.

A leitura também pode ser uma terapia poderosa. Não só os designados livros de autoajuda ou outros similares que abordam temas complexos e perspetivam-nos estratégias de superação, proporcionando-nos um espaço seguro para explorar e entender os nossos sentimentos. A “biblioterapia”, cura pela leitura, tem ganho cada vez mais adeptos, dado que se centra na leitura para melhorar a saúde mental na vertente clínica e de desenvolvimento.

Ler enriquece a experiência humana, conferindo-lhe num sentimento de pertença na tapeçaria do Universo.

Algumas sugestões de leituras:

  • A doçura da chuva – Deborah Smith
  • Misericórdia – Lídia Jorge

– “Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico”

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Comments 7
  1. Artigo muito interessante!
    Pela leitura viajo.
    Falo com as personagens, que durante o processo parecem namorar comigo. Sinto-as como minhas, se me prenderem a atenção de imediato. Caso contrário, não serão livros que deixem lembranças. No final, se, de facto, a leitura foi boa, rego os livros, à espera que a história continue, esperançada que haja um outro final, seja ele qual for.
    Enfim, respiro Literatura e então?
    Esse teu artigo serve-me. Muito obrigada pela partilha, Paula.

  2. Mesmo. O que lemos dá-nos ferramentas para a reflexão e o autoconhecimento. Somos o que lemos. Excelente

  3. “Reforçar a certeza de que não estamos sós”. É isso, gostei muito. Afinal, somos uma espécie de rede no universo.

  4. Estou completamente de acordo! Os livros são reflexão, são imaginário, são
    conhecimento, são terapia, são companhia… Excelente reflexão!

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