Este ano de 2020 tem sido todo ele cheio de singularidades e de características únicas.
É verdade que nem todas foram más, mas também é verdade que muitas foram avessas ao nosso modo de vida, pelo menos do jeito que o conhecíamos.
Celebrámos ontem o dia da Liberdade que assinala a data em que o povo português conquistou o poder, e assumiu os novos destinos da democracia da nação portuguesa, e do que viria a ser o novo Portugal.
Foi assim há 46 anos.
Quem nos havia de dizer que neste aniversário do 25 de abril estaríamos todos confinados aos nossos espaços, limitados à mesma rotina de ontem, de anteontem e da semana passada…? Enfim, a mesma de sempre nesta quarentena.
Afinal somos livres, mas não o podemos ser verdadeiramente, ou será que podemos?
Pois, não é fácil a resposta… eu diria que sim, mas também podia dizer que não.
Porque se é verdade que sou livre, dado que posso expressar-me livremente e ter uma opinião que é a minha, e não aquela que terceiros querem ouvir. Também é verdade, que não me posso deslocar para onde quero, abraçar todos a quem me apetece abraçar, passear por onde bem entender.
Em suma, é uma realidade que é uma sensação única a de se viver em liberdade, eu não conheci outro modo de vida, mas houve quem muito tivesse sofrido com a ditadura política que governou o nosso país durante 48 anos. Dei por mim a pensar que Portugal ainda não tem tantos anos de democracia, como os que viveu de ditadura…
Importa, portanto, preservar esta democracia e perceber que ser livre não é exatamente fazer aquilo que muito bem se entende, ser livre é também saber respeitar o outro e o seu espaço. Só serei verdadeiramente livre se permitir que o outro também o seja.
Esse é o real sentido da liberdade, aquela que se partilha, e se vive em comunhão, permitindo que os outros sejam também eles livres, e não o sentido egoísta que apenas assegura os meus direitos e garantias, deixando para os outros apenas as obrigações e os deveres.
Liberdade é também poder trabalhar a partir de casa, manter relação laboral e atividade profissional apesar de se estar “retido em casa”, esse é também um direito que a liberdade nos confere e com certeza o 25 de abril de 1974 nos concedeu.
A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo.
(Fernando Pessoa)