Reflexos

Quando encontras uma pessoa, lembra-te de que é um encontro sagrado. Tal como a vês, assim te vais ver. Tal como a tratas, assim te vais tratar. Aquilo que pensas dela vais pensar de ti. Nunca esqueças isso, porque nela (nessa pessoa) vais encontrar-te ou perderes-te.

Adaptação do livro Regresso ao Amor de Marianne Williamson

A nossa vida é feita de encontros com o outro. Estes encontros podem ser breves e momentâneos, como alguém que encontramos no elevador ou um estranho que passa por nós na rua e nos sorri, ou mais ou menos permanentes na nossa vida como as relações pais-filhos, algumas amizades e/ou relações amorosas.

A intensidade do encontro com o outro nada tem a ver com a duração do encontro, mas mais com o impacto que o encontro com esse outro tem em nós.

O encontro com outro é como um encontro com o espelho, é como um olhar ao espelho e dizer:

“Espelho meu, Espelho meu, que reflexos meus tens tu para me mostrar?”

O outro apenas devolve e reflete aquilo que já habita dentro de nós.

Por vezes, os reflexos são tão subtis que nem os “vemos bem”, como quando passamos por um espelho e olhamos a nossa silhueta só de relance outras vezes o reflexo é tão intenso, ao ponto de nos ofuscar, de quase nos cegar, que quase preferimos não ver, fechar os olhos para não ver aquele nosso reflexo.

Vivemos em constante relação com um outro e essa relação, seja ela qual for, é sagrada, pois é nela que nos encontramos, que nos vemos refletidos e assim nos descobrirmos.

As relações mais permanentes são as que nos permitem uma maior aprendizagem sobre nós. São autênticos cursos de desenvolvimento e crescimento pessoal, são oportunidades únicas de nos conhecermos verdadeiramente e de evoluirmos se assim quisermos.

O encontro com o espelho do outro nem sempre é fácil ou agradável, principalmente quando é mais permanente e duradouro, como por exemplo nos relacionamentos mais íntimos e nos relacionamentos pais-filhos e, muitas vezes, o primeiro é extensão do que foi vivido nas relações com os nossos pais.

Os papeis mudam, os espelhos trocam de mãos, mas aquilo que é refletido tem quase sempre a mesma dimensão, a dimensão de quem Somos.

Quem sou como filho/a? Que sou como Pai e/ou Mãe? Quem sou como “esposa”? Quem sou como “marido”?

O que te mostra o teu pai/mãe de ti no papel de filho/a? Que te mostra o teu filho/a de ti no papel de pai/mãe? O que te mostra o teu marido no teu papel de mulher dele e de ti como mulher na relação? O que te mostra a tua mulher de ti como marido e de ti como homem na relação?

De todos estes espelhos recolhemos reflexos que nada mais são que imagens de papeis reais nossos, nós não somos uma só imagem, um só reflexo, mas um conjunto de uma teia de relações e ligações que constituem a vida relacional em que nos movemos.

Uma teia tecida a partir de um ponto central, num dado ponto da nossa vida e, a partir do qual, tecemos a sua representação e perpetuamo-la no tempo, cada vez mais longe e mais longe desse momento central.

De cada vez que reconhecemos e vemos um reflexo nosso no outro temos a oportunidade de tomar consciência de quem somos em determinada relação, de como nos movemos e nos comportamos nessa relação e, se isso acontecer numa relação que está danificada, moribunda ou morta, decidir se a queremos reparar ou não, se queremos dar-lhe uma lufada de ar fresco ou deixa-la asfixiar, se a queremos matar ou ressuscitar.

E reconhecer e aceitar que em todas as decisões que tomamos em relação às nossas relações estamos a decidir sobre partes nossas. Estamos a decidir o que queremos reparar ou não em nós, o que queremos ressuscitar ou não em nós, o que queremos transmutar ou não em nós e assim com consciência viver esse quem realmente somos e queremos ser nas nossas relações pessoais.

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