Tenha sido pelo morcego, erro de laboratório ou por graça divina, a verdade é que nos últimos 14 meses vivemos um verdadeiro filme de ficção científica. Uma daquelas mega produções de Hollywood, digna das maiores estrelas de cinema e que termina num previsível final feliz, numa espécie de “e viveram felizes para sempre” …só que não. Não mesmo!
São tempos difíceis para os otimistas. Na mesma proporção em que vemos o número de vacinados aumentar e começamos a respirar de alívio, percebemos que a verdadeira crise pode ainda nem ter chegado. Seja a financeira, em que já se prevê que a covid-19 venha a ter um impacto quatro vezes superior à crise económica de 2008; seja a social, pelos efeitos desiguais nos vários setores da sociedade; ou seja mesmo a crise emocional ou continuamos a acreditar ainda que vamos todos ficar bem e que estas emoções, angustias e experiências não vão ter um profundo impacto no nosso emocional e na forma como nos relacionamos uns com os outros? Faça o exercício – olhe para trás, para tudo o que viveu no último ano, e diga se lhe parece real? O medo de tocar na maçaneta de uma porta, o suspender a respiração quando se cruza com um transeunte na rua ou a agonia dos 14.000, 15.000, 16.432 casos diários e 303 óbitos, em que a dor no peito se confundia, se pelo efeito do vírus ou pela ansiedade das notícias?! Realidade, ficção…no meu caso, ainda não consigo perceber bem.
O mundo e a União Europeia, especificamente, enfrentam talvez a maior crise económica e social desde a Segunda Guerra Mundial. O medo e a incerteza do pós-covid vem juntar-se a todas as outras problemáticas que já espreitavam na era pré-covid, que não desapareceram neste último ano nem tampouco refrearam, tal como o aumento da xenofobia e das atitudes anti-migrantes; a crescente desconfiança institucional, que promove à ascensão das políticas extremistas; a corrupção; a sustentabilidade ambiental ou a defesa dos direitos humanos, questões globais, transversais a todos os países, em maior ou menor escala, e contra as quais nenhum país por si só consegue combater sozinho.
Passarmos por tudo o que passámos nos últimos meses e aceitarmos que ainda há mais por vir, faz-nos mergulhar numa espécie de surrealismo. Mas, apesar da dificuldade, acredito que cada uma destas problemáticas deva ser entendida como um desafio, na forma positiva de o ser.
Acredito nas abordagens positivas e inclusivas, que face ao panorama atual da União Europeia, defendem políticas que cimentam e reforçam mais que nunca o multilateralismo. Nenhum país consegue sozinho resolver qualquer um dos desafios do futuro próximo, é fundamental uma resposta articulada, forte e comprometida de todos, para que juntos consigamos ultrapassar este momento e sair dele mais fortes, coesos e saudáveis. Pode parecer uma visão demasiado simplista e algo ingénua, mas qual a base da União Europeia senão a União?!
Apesar da pandemia ter revelado algumas fragilidades da União Europeia, na gestão do processo de vacinação, por exemplo, ou o egoísmo por parte de alguns estados membros, a verdade é que esta está a desempenhar um papel fundamental no combate à pandemia e na recuperação económica, pretendendo ainda, através do Pacto Ecológico, dar uma resposta ao desafio ambiental e das alterações climáticas.
A crise pandémica trouxe-nos dificuldades inimagináveis, mas também nos trouxe inovação e oportunidades. Mostrou-nos que os padrões podem ser quebrados, que com perseverança e resiliência conseguimos encontrar novas soluções e novos rumos. É uma mudança de paradigma, uma oportunidade de virar a página, quebrar com hábitos que já não servem ao mundo contemporâneo e escrever uma nova história para as nossas vidas enquanto instituições, sociedade e planeta.
Um mundo novo, cheio de novos desafios que exigem uma reflexão séria e honesta sobre tudo o que estamos a viver e o impacto de tudo isso no nosso futuro. O mundo é hoje um lugar diferente e, apesar dos tempos serem difíceis para os otimistas, é imperativo aceitar a dificuldade e olhar para a Europa e para a sociedade com futuro e otimismo!