Uma das trends mais virais dos últimos tempos é falar da matemática das coisas. Boy math, girl math, gay math, millenial math, ADHD math, mom math, entre outras. Hoje falo-vos da work math.
Se pensarmos na logística de um dia – 24 horas, dividindo equitativamente o tempo, teríamos:
- 8 horas de trabalho;
- 8 horas de lazer;
- E 8 horas de sono.
Para as horas de trabalho serem e-fe-ti-va-men-te oito, temos de perder cerca de uma hora em deslocações casa-trabalho e trabalho-casa (para quem ainda faz trabalho presencial). Temos também de tirar uma hora de almoço. Vamos retirar essas horas de um dos restantes tempos – ficamos apenas com 6 horas de lazer, uma vez que oito horas de sono por dia são essenciais para uma vida saudável.
Para além da refeição que fazemos no horário de trabalho (que é geralmente o almoço), temos ainda duas outras refeições: o pequeno-almoço e o jantar. Sendo que cada uma destas leva cerca de meia hora a preparar (menos tempo o pequeno-almoço e mais tempo o jantar, mas fica ela por ela) e outra meia hora para consumir, podemos retirar mais uma hora e meia do nosso tempo de lazer. Ficamos com 4 horas e meia – ok, manageable!
No meu caso, que sou mãe de uma bebé de 15 meses, posso tirar mais uma hora do meu tempo de lazer para dar jantar, arrumar a mochila da creche, dar banho, vestir e preparar cama, lavar dentes, contar história e adormecer bebé. Restam-me apenas 3 horas e meia para desfrutar da vida, dedicar-me a um hobby, fazer desporto, ler um livro ou talvez aprender mais sobre a minha área de formação ou outro tópico que me interesse. Contudo, apesar da vontade de me recostar no sofá ser grande, mais ainda por estar em permanente teletrabalho com o sofá por perto, há toda uma outra lista de coisas para fazer.
Trabalhar para viver e viver para trabalhar. Perdemos tempo de vida e perdemos a nossa vida no tempo. O tempo que corre, que voa, que no trabalho passa devagar e em casa passa depressa. Que se estica para fazer mais uma máquina de roupa, mas que encolhe para marcar um jantar com amigos. Que não chega para nada, mas tem de chegar para tudo.
Estes sistemas, estas rotinas, estas obrigações a que nos propomos, a que nos sujeitamos, em que vivemos, fomos nós que criámos. Outrora sonhámos que elas nos pudessem trazer estabilidade, realização e progressão nas nossas ambições, mas na verdade o que fizeram foi reduzir a espuma dos nossos dias à espuma das ondas sujas que morrem na praia.
A work math não está a somar e honestamente, sinto que está cada vez mais a subtrair. A subtrair anos de vida e vida desses anos que trabalhamos. A subtrair momentos felizes com aqueles que amamos. A subtrair saúde mental das camadas mais jovens até aos que se aproximam da iade da reforma. Hoje, work math é trabalhar para te sustentares e descontares para uma boa reforma, mas veres a idade de te reformadores cada vez mais distante. Work math é trabalhar horas e horas e horas e ver o valor desse trabalho descontado em impostos. Work math é trabalhar em dois empregos e continuar a ganhar mal. Somar preocupações, subtrair tempo livre, multiplicar despesas e dividir salário.