A Rotunda

Concluído que está o acto eleitoral na Catalunha, eis que o esperado acabou por acontecer. Inés Arrimadas, candidata vencedora pelo partido Ciudadanos não conseguiu reunir os consensos necessários na Generalitat para a formação do seu Governo. Tendo sido o segundo mais votado, caberá então a Carles Puigdemont que encabeçou a lista do Partit Demòcrata Europeu Català (PDECAT) nas eleições de 21 de Dezembro de 2017 levar a cabo a formação de Governo. E, ao contrário da sua opositora (Inés Arrimadas), Puigdemont tem o apoio oficial e incondicional de todos os partidos independentistas que conquistaram lugares na Generalitat. Dito de uma forma, o próximo Governo catalão será formado e liderado por Carles Puigdemont que, ao que tudo parece indicar, irá governar a região a partir da Bélgica, dado que a perseguição política que Madrid promoveu no final de 2017 parece não ter fim à vista.

Facilmente se chega à conclusão de que Mariano Rajoy perdeu a toda a linha esta sua batalha imaginária contra os moinhos catalães.

Contudo, Rajoy actua e pensa como a famosa personagem de Pedro Cervantes, uma vez que de Madrid não surgem sinais de que se irá encontrar uma solução pacífica e equilibrada que respeite a vontade da maioria do povo catalão. Inclusive já se falou em jeito de ameaça numa espécie de rebelião de uma micro-região que se encontra dentro da Catalunha, caso o próximo elenco governamental (fosse este qual fosse) volte a insistir na tese da independência.

Porém, a tese da independência da Catalunha terá, forçosamente, de voltar à ordem do dia, pois Carles Puigdemont e os partidos que o apoiam não parecem dispostos a abdicar desta ideia, enquanto Espanha não se sentar à mesa das negociações na busca de uma solução que faça com que tudo volte a ser como era antes da famosa revisão constitucional que reduziu quase a zero a autonomia da Catalunha.

Acrescente-se que nesta contenda Carles Puigdemont terá o apoio total dos partidos independentistas catalães (e tudo isto graças a Rajoy). Já do lado do ainda actual Primeiro-ministro de Espanha fica a dúvida de quem irá continuar a fazer o papel de Sancho Pança.

A principal consequência desta “guerra” tem-se feito notar nos partidos do bi-partidarismo espanhol. Tanto o PSOE como PP estão a perder eleitores, o que coloca bi-partidarismo espanhol em vias de extinção. Isto, claro, caso Mariano Rajoy continue a insistir nesta louca corrida em torno de uma Rotunda sem que se escolha uma saída viável.

Face ao actual estado de coisas, Mariano Rajoy deveria pedir a demissão ou então exigir a demissão de quem o aconselhou sobre a problemática da Catalunha. E há que dizer que o Rei de Espanha tem muita culpa neste cartório. Poderia e deveria ter sido Sua Majestade, o Rei, o primeiro a tentar propor encontrar-se uma solução viável para todos. Contudo, já ficou provado que Filipe VI se interessa mais por uma jantarada no país vizinho e por umas viagens de cortesia ao estrangeiro (de preferência a países onde vigoram regimes autoritários como na Arábia Saudita).

Para terminar, há que dizer que por Espanha já se começa a falar de uma possível revisão constitucional para que o diferendo entre Madrid e Barcelona seja ultrapassado em definitivo. A ideia parece agradar a independentistas e unionistas e passa, tão simplesmente, pela criação de uma Espanha federada (à imagem dos Estados Unidos da América e Federação Russa). Será que Rajoy e Sua Majestade, o Rei Filipe VI, estarão dispostos a abdicar dos seus princípios? Na minha modesta opinião, não, senão de outra forma o problema catalão não teria chegado ao ponto a que chegou.

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