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A mulher (im)perfeita

Nunca tomei a devida atenção ao movimento feminista. A pessoa ouve e lê informação em tudo quanto é sítio e depois percebe que afinal não sabe nada de nada, mas isso é para outro artigo. Este é sobre as dificuldades das mulheres ao existirem no papel de imperfeitas.

Lembro-me de quando o meu filho fez sete meses e eu tinha acabado de voltar ao trabalho. Nessa altura, tinha praticamente dores de cabeça todos os dias, e todas as manhãs sangrava do nariz, tal não era o meu estado de tensão. Decidi ir ao médico. E foi naquele consultório que percebi, o que estava a sentir na pele, o quão incutido está no seio social que a mulher não pode ser imperfeita, que não se pode queixar e que tem de fazer tudo. Foi com aquela médica que chorei por não estar a dar conta de ser mãe, esposa, trabalhadora, dona de casa, filha, amiga…enfim, pessoa.

Não era na cabeça dos outros que existia esse pensamento intitulado como machista, era na minha.

A Dr.ª Filipa, com a sua voz calma e suave disse-me: “A Marília não é perfeita, não tem de fazer tudo e fazer tudo bem, isso é o que a sociedade lhe diz. Está tudo bem em priorizar.”

Escrevi estas palavras no meu olhar para quando alguém, e principalmente eu própria, me analisar ou julgar, eu fechar os olhos e deixar passar.

Nos vários papéis que represento já recebi muitas críticas, mas acho que o papel de mãe leva a taça. E sabem quem é que são as pessoas mais machistas com as mães? As mulheres. Pois é! Isto era assunto para livros e livros caros leitores.

O que eu sempre considerei cómico era o facto de alguém me dizer como deveria fazer, sem ter a ousadia de perguntar se eu queria ouvir, se eu conseguia fazer, e principalmente, se eu queria fazer diferente.

Outro tema para livros seria falar sobre o corpo da mulher, e a mulher no mercado de trabalho. Já para não pensar nas mães e o mercado de trabalho!

Nos vários lugares onde já trabalhei, vi as dificuldades das mulheres com filhos. O desespero de ter de faltar por doença do descendente (como se alguém quisesse faltar por isso), a ansiedade de não ter com quem deixar os filhos, etc. Acreditem que ser mãe não faz de mim menos profissional, assim como ser mulher não faz de mim fraca ou inferior.

O importante para cada uma de nós mulheres é saber impor limites, seja naquilo que ouvimos, seja naquilo que pensamos. Quais são os teus limites?

Para a Marília pedir ajuda era uma fraqueza, eu queria fazer tudo sozinha e queria fazer tudo bem. E sabem, a verdade é que eu sempre o consegui.

A maternidade mudou isso, não que eu agora passe a fazer tudo mal, quer dizer apenas que como pessoa com muito mais responsabilidades eu tive de aprender a estabelecer as minhas prioridades. E isto não deveria incomodar, seja eu uma mulher ou um homem.

A mulher perfeita não existe, tal como não existe a pessoa perfeita. O que tem de existir é o respeito. Esse nunca falha no seu papel!

Hoje eu não preciso de fazer tudo, eu apenas quero ser tudo em tudo o que faço. Já o dizia Fernando Pessoa: “Põe quanto és, no mínimo que fazes”.

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Antigo Acordo Ortográfico
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Comments 2
  1. A feminilidade tóxica, tal como a masculinidade tóxica foram e são ainda gatilhos para a desigualdade entre homens e mulheres, com prejuízo para as mulheres. É um problema/ herança quase cultural, em que as gerações anteriores foram incutindo maneiras de ser, de vestir, de estar na sociedade, tanto para homens como para mulheres. Estas duas toxicidades que impõem qual o papel que homens e mulheres devem ter na sociedade, são na minha opinião os grandes responsáveis pelos ainda muito presentes machismos, e desigualdade de género. O conceito feminismo tem sido muito mal tratado e desrespeitado, porque se tornou uma luta das mulheres contra os homens em geral. Quando na realidade o feminismo deve ser uma luta das mulheres pela igualdade de direitos, à qual os homens se devem juntar.

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