Há locais que nos marcam, e hoje voltei ao sítio que tem um local específico que marcará para sempre uma fase de transição na minha vida, uma simples janela.
E foi tão bom voltar.
Que bom regressar aos locais que em tempos se distinguiram e que, de alguma forma, nos ajudaram a crescer e nos fizeram mais felizes. É assim este lugar…
Voltei a olhar pela janela onde tantas decisões foram tomadas, numa fase da vida que apesar de não ter grandes certezas, de qual o melhor caminho a percorrer, já tinha comigo uma garantia e uma certeza, sabia muito bem por onde não queria continuar.
Aquela paisagem para onde hoje os meus olhos voltam, esteve lá sempre, mesmo depois desses momentos, tantas e tantas vezes, e eu nem me apercebi dela, tão embrenhada estava nos meus pensamentos e nas minhas decisões ou indecisões, aquele foi sempre um local de conforto nessa fase da minha vida.
Fazia-me falta voltar lá de vez em quando.
Aquela janela era o aconchego dos meus pensamentos, onde fiquei triste, porque me trataram menos bem, algumas vezes permiti que a lágrima se soltasse, também planei e sonhei muito por ali, mas sobretudo era o refúgio que me ajudava a perceber melhor a vida que eu queria para mim.
E hoje parei, para olhar esta paisagem, tantas vezes já por lá voltei a passar, sem valorizar o peso da importância que aquele lugar teve na minha vida. Como aquele alguns outros locais, onde me encontrei comigo própria e consegui ouvir os meus pensamentos, respirei baixinho e senti-me abençoada por ter um lugar meu, como nunca tive verdadeiramente.
A minha janela não é uma janela indiscreta como a do Alfred Hitchcock, a minha janela é antes introspetiva, ajuda-me a reencontrar momentos, sentimentos e emoções passados, que me refletem e me ajudam a perceber melhor a pessoa que sou hoje, assim mesmo, igualzinha a mim.
Esta paisagem tem hoje refletida no seu horizonte os sonhos alcançados, as perdas do caminho, as pessoas que já não me acompanham, as memórias boas, mas também a dor de perceber que nem sempre o bem vence, por vezes tarda em se fazer acontecer, ou parece não querer vir.
No entanto, acredito que é mesmo o que diz o povo, “não faças mal à espera que te venha bem”, chamem-lhe justiça divina, o universo a conspirar, o que seja, a verdade é apenas uma, o que há-de ser nosso, à nossa mão vem parar.
Sem pressa, sem atropelos e sem ultrapassar ninguém, basta apenas fazer o nosso melhor e deixar que a vida se encarregue do resto. É assim a vida a acontecer.
“Lembre-se que é preciso muita ousadia para chegar às alturas e, ao mesmo tempo, muita profundidade para agarrar-se ao chão.”
– Paulo Coelho