
A memória é a [auto] consciência inserida no tempo.
– Fernando Pessoa
Do alto do dia de hoje, sob o meu ombro, o olhar relança-se no desvio da memória pelo que ficou para trás ao longo do caminho. As muitas vidas por que fui passando, as pessoas que se cruzaram ou por quem passei ao longo do percurso, com todas as marcas e recordações associadas.
Momentos de alegria, muitos, verdadeiras epifanias de felicidade que me avassalaram em diversos momentos da vida, e estas memórias trazem naturalmente consigo a luz que me faz sorrir, apenas por me recordar de todas estas vivências perdidas num tempo que existe apenas na minha memória.
As diferentes etapas por que fui passando e que me ajudaram a crescer, sem as quais não seria naturalmente a pessoa que sou, e que me auxiliaram a formar o ser que sou hoje. Não sou melhor nem pior do que ninguém, sou apenas diferente, mas no entanto muito eu própria, com muito orgulho. E gosto disso.
Habitualmente costumo comentar com quem melhor me conhece e que priva comigo na intimidade da vida que “eu gosto muito da minha companhia”.
E gosto mesmo, não o digo apenas por dizer, e acredite-se ou não, também não o faço por egocentrismo, afirmo-o com a mais profunda humildade, de quem aprecia as coisas boas da vida, mas que também é sensível aos tremendos problemas que atingem o nosso universo a cada dia que passa.
E gosto da minha companhia, porque a vida me ensinou a saber sorrir perante situações que podem até ser consideradas caricatas, de eventuais quedas que damos sem querer, de gralhas que cometemos, quando queremos fazer bonito. Em suma, sempre que, porque somos humanos, a nossa humanidade vem à tona e naturalmente falhamos, ainda que não o queiramos fazer.
A vida ensinou-me ao longo do tempo a retirar de tudo o que acontece na minha vida as ilações mais positivas que consigo, e o que me deixa plenamente feliz é perceber que tenho feito um excelente trabalho com os meus filhos que assimilaram estes valores que com tanto empenho tenho vindo a tentar passar, e sinto que a vida já valeu a pena, quando perante uma qualquer dificuldade, os ouço proferir aquela palavra de alento ou de incentivo que eu diria se estivesse no seu lugar.
Quando perante alguém em dificuldades a atitude é de auxílio, onde perante a diferença o gesto é o da inclusão, perante o desalento a palavra é de incentivo. E reconhecer que refletem nas suas vidas os valores que sempre procurei passar, e que estes se espelham todos os dias em cada situação que se lhes depara no caminho.
E quando sob o meu ombro, olho para trás, sem pretensas nostalgias e vejo as imagens mentais do que foi a minha vida, tenho muito orgulho em apesar de todos os pesares, ter sido bem-sucedida naquela que em meu entender é a minha mais nobre missão neste planeta: ser mãe. E sou triplamente feliz, porque existem no universo três seres que terei sempre no coração e sem os quais não conseguirei viver. Existe motivo mais válido para ser feliz?