Há praticamente uma semana que não se fala de outra coisa e não, não é do caso Marquês, mas sim do que dele resultou, a detenção do ex-primeiro-ministro José Sócrates, indiciado por sete tipos de crime, entre os quais quatro tipos de corrupção. Outros foram detidos, mas a realidade é que, no meio de todos, José Sócrates tem um significado especial.
Pela primeira vez na história da democracia portuguesa, um ex-primeiro-ministro foi detido, algo que é suficiente para fazer deste caso um verdadeiro espectáculo na comunicação social, capaz de alimentar manchetes, durante meses a fio. Contudo, aqui encontramos de tudo, desde uma abordagem mais séria e dedicada, com vista a informar a opinião pública, até ao inverso, à coscuvilhice e ao desnorte de uma imprensa que precisa de sobreviver.
Creio que ninguém precisa de saber o que José Sócrates comeu no primeiro almoço, ou jantar na prisão de Évora, nem sequer os seus hábitos no dito estabelecimento, mas ainda há quem insista nessa fórmula de fazer qualquer coisa que, por acaso, chama de jornalismo. Verdade seja dita, fiquei muito desiludido, quando nenhum canal de televisão, ou jornal noticiou esse grande momento que foi o do título desta crónica, desenleando toda uma consideração sobre a relevância de tal facto para o processo.
Sejamos sinceros, este não é um caso qualquer, nem nunca poderá ser encarado dessa forma. Não é um simples caso de justiça que envolve alguém “grande”, é um caso que, bem direccionado, pode mudar o paradigma político em Portugal e mostrar que, realmente, ninguém está acima da Lei e que vivemos num Estado de Direito Democrático. Este é um caso que, por muito que Sócrates queira separar, como ele indica na carta (com uma linguagem da qual já não tinha saudades nenhumas) que enviou à comunicação social, é também um caso político, pois o ex-primeiro-ministro não é um cidadão comum, nem os crimes pelos quais está indiciado, que pelos vistos ocorreram durante o tempo que foi chefe do governo, são simples crimes.
Existe um real problema neste caso, que não tem nada a ver com questões processuais, mas sim, precisamente com a loucura que se instalou à volta dele, desde a própria abordagem da comunicação social até à própria opinião pública. Sócrates não é uma pessoa por quem se tenha uma ligeira empatia, ele é uma figura que se adora e admira, ou não se suporta, de todo.
Os próximos meses vão ser de um esmifrar deste tema, de forma exaustiva e até absurda, ultrapassando os limites do próprio processo e escavacando a vida privada em busca de uma notícia qualquer. Contudo, não me preocupo minimamente, porque haverá sempre um Soares para ajudar à festa! Pelo meio, vamos ver como António Costa se consegue desenlear deste novelo (com a ajuda de Soares não será, certamente) e como Passos Coelho e Paulo Portas se conseguem safar com a história dos vistos “Gold”. Até lá, pode ser que encontram espaço para criar caminhos e direcções para o país.
Rua Cidade de Faro nº 1-3º.-A Men -Martins.
Meus senhores nada tenho contra o cidadão José Sócrates,
mas o Sr Juiz não o colocou na cadeia por ser socialista ou não mas pelos factos apurados, certo até ao julgamento, todo o cidadão se presume inocente . Mas se ele cometeu abusos sérios , não tem de ter nada de regalias, ele é um preso qualquer, e com isto disse tudo .Obrigada