Puebla de Sanabria

Foi ali que tudo aconteceu e ficou registado. A Puebla é a fiel testemunha de contendas entre os castelhanos, que na verdade são galegos, com os outros, os portugueses, sendo que hoje é um local que serve para criar laços e beber uns copos em plena comunhão.

De zona inóspita e gelada, ganhou uma nova maneira de ser mirada e avaliada por via de um tempo histórico que se impõe. A Idade Média não se quer ir embora, gosta de se espraiar e de provar que tantos séculos tiveram valor e memória.

Todos os anos, em Agosto, a Feira Medieval é a atracção principal, a que faz deslocar muitos artesãos, gente que apesar de tudo resiste, de todos os tipos, para mostrar a sua arte, aquela que ficou nos cromossomas e que irá ser uma chancela perpétua.

Puebla não se abastarda. Não deixa, não quer, não permite. Sendo altaneira, tem a melhor das visões e sabe que o futuro, o que todos os dias acontece, tem tantas aventuras como as idas. O sol é que comanda. A sua flora e fauna são extraordinárias e o Lago de Sanábria, de origem glaciar, o maior da Península Ibérica, com cerca de 368 hectares, é uma marca única.

Sabe-se da existência desta terra desde o ano 509 e no século X há referência à cidade de “Sanabrie”, mas nesta não consta nenhuma linha defensiva, o que apenas surge no século XII, em 1132, com relatos sobre o castelo.

Em 1195, Alfonso IX, o rei, toma-o para funções várias, políticas, económicas, jurídicas e militares. Tornou-se aqui, nesta terra, o bastião de defesa contra Portugal. Nesse contexto, o monarca escolhe as suas vilas para se instalar.

Na jurisdição de 1220, tornam-se públicas as obras efectuadas no castelo. Este tem uma planta quadrangular, com cubos circulares nas zonas angulares. Uma técnica curiosa cheia de estética avançada e que merece a visita.

Já no século XV, D. Rodrigo Alonso de Pimentel terá, neste castelo, uma permanência mais duradoura, até 1510 e cuida da fortaleza ou castelo, sem grande preocupação.

Este foi o palco das guerras entre vizinhos, ou seja, os nacionais e os portugueses, durante o século XVII, o que provocou uma deterioração na estrutura. Em 1642, será fortificado, já que a zona continuava a ser local de conflitos.

Em 1710 a ruína não impediu os portugueses de se apoderarem do castelo. As contendas duraram até 1716, época em que volta a passar para as mãos castelhanas.

Contudo esta seria a zona de conflito com uns outros inimigos, os franceses, que acabam por provocar o colapso do castelo. Fica em ruínas e ao abandono até 1887, quando é comprado pela edilidade.

Somente no início do século XXI passará a ser um poderoso instrumento cultural diversificado e muito requisitado. Além das várias sessões de cinema, muitas exposições têm lugar aqui. O mais importante é a divulgação da cultura local.

Puebla é belíssima, uma donzela que não se adultera, mas a zona envolvente tem outros encantos peculiares. As montanhas abraçam e oferecem 20 lagoas para se suspirar. E como não estão sós, os desfiladeiros pintam, com tons únicos, a paisagem.

Uma visita aqui é sempre novidade. Todo o conjunto histórico-artístico é de retirar o fôlego. As ruas são encantadoras e a igreja de Nossa Senhora do Azogue, a que fica na Plaza Mayor, merece uma paragem. É que o século XII parou mesmo ali.

Agosto, quente, delicioso e apelativo, tem a particularidade de trazer o Mercado Medieval que recria com mestria as artes ancestrais e a música, a que sabe juntar gentes, que foi companhia de muitos. O antigo e o novo vivem em conformidade. Próxima de Portugal, a uns míseros 42 km de Bragança, merece toda a atenção que se lhe possa dispensar. Encantadora e encantada é um pequeno sonho que se torna realidade. O tempo, esse safado bastardo, parou aqui e ainda bem que o fez.

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