A culpa é da mulher

Aviso: Este texto contém ironia.

Dos dados estatísticos que a APAV nos disponibiliza de 2017, em média 5.036 mulheres foram vítimas de algum tipo de violência. Das vítimas apoiadas registam-se 82,5% do sexo feminino. Será que estes estudos foram feitos por mulheres?

Quem são os culpados de todos estes crimes? As mulheres, claro está. Quem lhes disse que deveriam considerar-se pessoas?

Se as mulheres são vítimas de crimes sexuais, de quem é a culpa, senão delas próprias? Os homens têm desejos, claramente, e elas vestem-se de forma provocadora, não entendem que nem as burcas as tornam menos sensuais, praticamente, instigam o sexo oposto, apelam para que eles se «façam ao bife». E depois choram, seres engraçados, desprovidos de bom senso.

Expurgar as mulheres da sociedade é a forma mais sábia de evitar os crimes contra as mulheres, até porque, essa mesma escumalha gera os homens no seu ventre por 9 meses, logo, a culpa de tudo o que eles fazem depois que são expelidos do útero é exclusiva de quem? Hum…

As mulheres não precisam de ser independentes, não precisam de estudos superiores, de trabalhos bem pagos, ou de conduzir um carro topo de gama, para isso servem os namorados, os amigos e os maridos. E imagine-se a sorte de ter um marido abusador, um crime sexual nunca será um crime, de facto, porque ele é seu marido, e os maridos podem. Podem tudo.

Inclusive, levar-te a acreditar que a culpa é tua, que tu escolheste encarnar o papel de vítima, que tu poderias permanecer em silencio, e que a tua dignidade poderia ser cozinhada em lume brando, enquanto ele te agride, abusa, e prende a tua vida numa ampulheta, assistindo em zona VIP a essa mesma vida sendo dissipada.

O tempo está a contar, e se ele te matar, a culpa é tua que nasceste mulher.

P.S. Este texto foi escrito por uma mulher e, como é óbvio, não deverá ser levado a sério.

Share this article
Shareable URL
Prev Post

O primeiro de Novembro

Next Post

Nada me preparou para voltar a sentir

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.

Read next

Kelis

Quando ouvi Kelis pela primeira vez, não gostei. Corria o ano de 2003, quando vi o clip “Milkshake” do álbum…

Um bar a preto e branco

Estava a contar os pedaços do seu coração partido, quando o som do saxofone chegou até ele como um cheiro…

Onde estás, Linklater?

Habituamo-nos ao realismo que caracteriza os filmes de Richard Linklater, à densidade e autenticidade dos seus…
Onde-estás-Linklater