O que não se vê

No decorrer das atividades cientificas e complementares, existe sempre algo que ainda não se entendeu na totalidade, pouco se consegue explicar ou não há interesse o suficiente para aprofundar. 

No “sentir” das coisas está uma ciência quase tão exata como qualquer outra que conhecemos. Mas para esta em particular, todas as outras se interligam. A matemática, a biologia, a química e a física, todos estes titãs da sabedoria existencial, em sintonia, numa simbiose que tanto de invisível aparentam ser, conseguem uniformizar a viagem desta matéria. A viagem do “sentir” inicia-se, normalmente, através de um sujeito externo que induz uma ação que nos transporta para as galáxias nervosas do nosso sistema nervoso central e para a grande estrela da festa, o nosso cérebro. É aqui que a mensagem é transportada e descodificada, canalizando as sensações para os diferentes órgãos que nos permitem realmente sentir.

Na vanguarda desta ciência, o que mais me motiva ou entusiasma na maneira ou capacidade que nós humanos temos de sentir, seja de forma mais ou menos intensa, seja sobre que fatores estão envolvidos, é acima de tudo na diferença que existe em cada um de nós para lidar com isto mesmo. De pessoa para pessoa, varia muito a possibilidade ou permeabilidade para deixar sentir. Uns de nós permitem e vivem sobre céus estrelados numa paz inigualável, nas profundezas dos oceanos com diferenças perturbadoras de pressão, em campos floridos e coloridos com estimulação olfativa, em bombardeamentos constantes com uma aceleração cardíaca sem igual e, raramente, existem aqueles que vivem no vazio não sensorial. Cada um de nós, tem a predisposição certa para cada um deste cenários que apresento aqui, ou até mesmo, para todos eles, em períodos de tempo diferentes. Depende sempre da sensibilidade de cada um. 

“Sentir” permite saborear o mundo de uma maneira diferente, é como se levássemos na língua um pedaço de cada coisa. Como se conseguíssemos sobrevoar as paisagens das recordações que nos avassalam em dias de saudade, como se nos deitássemos sobre a cama e sobre a pessoa que mais desejamos, cheiramos e saboreamos a comida que mais gostamos, levamos à parede as letras das músicas que mexem connosco, colorimos os dias com o estado de espirito que acordamos, transpomos na almofada a carga que acumulámos ao longo do dia e reproduzimos intensamente a voz ou a música da sensação mais calma que cada coisa nos traz. Sentir não é só pela palavra, é também o êxtase da emoção.  

No amor, por exemplo. Quando nos pedem para descrever o amor, poucos de nós o conseguem fazer. Isto porque amor está inserido numa plataforma irregular de sensações e sentimentos, que nos faz sentir e não definir. Cientistas conseguem explicar, por processos hormonais, fisiológicos e até por algoritmos e genética que poucos de nós conseguem entender, o processo de aprendizagem e adaptação à nossa maneira de amar. Como uma escada, começa pela nossa infância, através dos nossos pais ou cuidadores que nos dão a primeira noção de o receber e num processo de aprendizagem, reproduzimos na adolescência, onde se misturam os primeiros cocktails de hormonas que aglomeram excitação, entusiasmo e o dever da experiencia. Na idade adulta, o amor pode expandir e enveredar por outras coisas e pessoas, fazendo aumentar uma lista simples e enraizada de sentidos seres. Neste exemplo, conseguimos entender o que realmente é o “sentir”, porque todos nós amamos alguém ou alguma coisa. E no amor, a essência está no que se sente.

E por isso, o “sentir” pode ser tão abstrato, pessoal ou, por vezes, inexistente. Porque deriva simplesmente da sensibilidade, mente aberta e apaixonada que cada um de nós tem, que cada um de nós permite ou degusta a favor do seu bem estar.  

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico
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