I’ve seen how it ends and the joke’s on them

“The joke” de Brandi Carlile. Uma das músicas do ano transacto, de uma das mais underrated artistas do panorama actual.

Este verdadeiro hino aos inadaptados e “outsiders” do nosso tempo, foi produzido e co-escrito pelo mesmo autor da música que a lançou para a ribalta a nível mundial, corria o ano de 2007:  “The Story” – quem não se lembra do mítico anúncio da super bock ao som dela?

Desde esse (arrepiante) hit até  este (arrepiante) hit vai toda uma carreira que nos passou,infelizmente, ao lado aqui pela Europa.

A cantora  country/ americana, dona de um timbre “arranhado” muito particular, já lançou seis álbuns de originais,  mas só em 2015 um deles teve a sua primeira nomeação aos Grammys: “The Firewatcher’s Daughter”.

O álbum  subsequente “By the Way I Forgive You” teve seis nomeações aos Grammys 2019, quatro delas relacionadas com a música “The Joke”, incluindo canção do ano. E foi graças a ela que venceu dois dos três Grammys que arrecadou nessa noite.

Merecia ainda mais.

Segundo Brandi Carlile, a canção tem um contexto político, falando sobre todos aqueles que, após as eleições presidenciais americanas de 2016, se sentem ostracizados e ilegais num país que não os representa. Contudo, rapidamente se retira da letra um significado mais abrangente, ao qual não será alheio o facto da cantora ter assumido a sua homossexualidade recentemente.

De facto, em trechos como:

With your quiet voice and impeccable style

Don’t ever let them steal your joy (…)

They can kick dirt in your face

Dress you down, and tell you that your place

Is in the middle, when they hate the way you shine

I see you tugging on your shirt

Trying to hide inside of it and hide how much it hurts”

Ou,

“ You gotta dance with the devil on a river

To beat the stream

Call it living the dream, call it kicking the ladder

They come to kick dirt in your face

To call you weak and then displace you”

Bem como no refrão:

Let ’em laugh while they can

Let ’em spin, let ’em scatter in the wind

I have been to the movies, I’ve seen how it ends

And the joke’s on them

Faz-se uma dura crítica à sociedade actual que impõe moldes relacionais e comportamentais. E frequentemente marginaliza os que ousam fugir aos padrões.

Na noite de entrega dos galardões, no passado dia 10 de Fevereiro, Brandi Carlile fez, para mim, umas das melhores actuações de sempre nos Grammy Awards. Actuação essa que não está disponível no Youtube devido aos direitos autorais, o que impede de a ver e rever todas as vezes que ela merece. Razão pela qual, aqui remeto para a performance mais semelhante que encontrei , que mesmo assim fica muito aquém daquela.

Numa versão acústica assombrosa, com um alcance vocal arrebatador e uma entrega emocional no ponto, “The Joke“, nos Grammy Awards, teve tudo. Foi quase uma afirmação da cantora que lutou para conseguir o seu lugar na música e esperou mais de 10 anos para ter o reconhecimento da indústria. Quando tantos outros o conseguem logo ao primeiro álbum – não raras vezes com menos mérito diga-se. E no final recebeu uma ovação de pé da plateia composta maioritariamente pelos seus pares.

O feliz que fiquei por ela.

Muitos não a conheciam. Muitos já não se lembravam que era a mesma que em 2007 cantava de forma irrepreensível:

All of these lines across my face tell you the story of who I am

So many stories of where I’ve been, and how I got to where I am

Linhas que ainda hoje canto a bom som no carro a conduzir (de vidros fechados) .

Para esses, ela provou nos Grammy Awards 2019 que “the joke’s on them“.

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