Quando pensamos na amizade, surge-nos um conjunto de predicados que nos leva a questionar sobre a complexidade de requisitos dos verdadeiros amigos. São requisitos naturais e espontâneos e, sabe-se lá como, que se atraem e ganham forma através de uma combinação de valores em que a reciprocidade surge como denominador comum. Entre quantas pessoas encontramos tal predicado?
A amizade carece de disponibilidade, para dar e para receber. Disponibilidade para entregar o nosso tempo. Disponibilidade para a troca de amor. Por isso, a quantos amigos nos entregamos de verdade? Quantos amigos se dão de verdade? Quantos amigos temos de verdade? Poucos, mas bons, julgo que será a resposta mais generalizada.
Nascida da química, nutrida pela troca de energia, conquistada pela confiança e movida pela empatia, considero ser assim a amizade, aquela relação afectiva que é transversal a qualquer grau de parentesco cuja única condição é a incondicionalidade e que mantém determinadas pessoas ligadas umas às outras, mesmo que passem muitos anos sem que se vejam. Até porque na verdadeira amizade o tempo e a distância não desvanecem os alicerces e os campos magnéticos da relação, bastando um reencontro para que tudo seja como sempre foi, por vezes ainda melhor e mais amadurecido.
Os amigos são como as estrelas, que estão sempre lá a brilhar, mesmo sem as vermos. São suporte para os momentos de maior combalia. Luz, que nos alumia nos dias de lusco-fusco. Escolta quando precisamos de reforços na guarda. Alegria nos momentos de folia. Companhia nas abertas do dia. Presença, mesmo em ausência. São energia, aliança e confiança. Eles são verdade e rimam com lealdade. Assim são as nossas pessoas especiais a quem chamamos irmãos de coração.
Se olharmos para uma taça de fruta, encontramos em cada peça uma característica especial. Na forma, na cor, no aroma, no sabor e no valor nutritivo. Todas juntas dão um colorido especial à fruteira e, se tirarmos uma que seja, há um desequilíbrio que carece de ajustes, confirmando, assim, que cada fruta tem o seu lugar de destaque. O mesmo acontece com os nossos amigos. Cada um, à sua maneira, tem um lugar especial no nosso coração, dando-nos a energia certa para que a vida seja vivida de forma equilibrada, saudável e em diversidade, integrando os nutrientes que dão forças para celebrar a vida e para os abraçar e agradecer pela sua amizade.
Podemos ter bens materiais que nos dão conforto tangível, mas a amizade é um amor-aconchego, “incomprável” e incomparável, que está no topo da riqueza. A amizade é acessível a todos quantos estão dispostos a encontrar a química e a criar empatia para, a partir daí, sem forçar, de forma natural e recíproca, atender e cuidar, ser e deixar ser.
Não sei se é possível viver sem amigos. Só sei que uma fruteira sem fruta é demasiado vazia.