Vampiros Sociais

Todos sentem, no seu íntimo, vontade de mandar, ser quem toma as decisões, quem dá as ordens e quem verifica se tudo está a funcionar. O desejo de ser o que regula é comum a muitos, mas, na verdade, para que seja eficaz terá que ser aliado a uma outra situação, que é saber fazer.

Há muitos que se colocam do lado dos mandadores, mas é apenas para serem vistos e apreciados como se tivessem real valor. São os vampiros sociais, os que se agarram com determinação, e o que estiver à mão, nos momentos em que os outros brilham e são as estrelas.

Sonsos e cínicos, fazem-se de amigos e de muito tolerantes para que logo que seja possível, possam executar a facada certeira que faça jorrar o sangue que irá a todos impressionar. Logo de seguida são os bombeiros de serviço, os que prestam os primeiros socorros e que estão na linha da frente.

É gente de duas caras. Pela frente enaltecem e aplaudem e depois, nas costas é que se percebe a falsa fibra de que são feitos. O bom passa a mau e vice-versa e o vinagre que espalham é tão estranho que deixa ficar um odor muito forte no ar. Nem as moscas o querem.

São varejeiras do viver. Poisam em todos os locais e levam e trazem como se fossem íntegros e sinceros. Os ovos são depositados em locais estratégicos e eclodem em grande escala. É o boato que se solta, o diz que disse e está a contenda bélica instalada.

O ser, que era bestial, passa nesse mesmo instante a besta e a fama fica de tal forma danificada que será difícil desaparecer. Quando se zangam as comadres, descobrem-se as verdades que, raramente, correspondem ao que se podia esperar de certas pessoas.

Estar na mó de cima, como se costuma dizer, soa a fácil mas a capacidade de assim permanecer é que se afigura uma ginástica cheia de barreiras, de saltos em altura e em comprimento e ainda algumas piscinas para nadar. Uma espécie de prova desportiva onde o esforço nem sempre compensa.

O lirismo, a poesia de viver é uma utopia, um delírio passageiro que alivia as dores da sociedade. Sem a cultura a vida seria mais escura e sem cor, cheia de ratoeiras pardas onde se tropeça todos os dias. A sensibilidade não deve ser penalizada, mas sim incentivada.

“Se fosse eu a mandar, deixava que os gatos subissem a todos os telhados e passassem a noite ao luar a ronronar. Os cães seriam todos bem tratados e as crianças eram amadas pelos seus progenitores”, escreveu o autor na primeira página. Ler é fundamental para que se saiba interpretar.

Quem pensa deste modo é visto como um lunático, como alguém que está desenquadrado e que não se integra no todo. Felizmente que estas gentes, as que vivem na clandestinidade, ainda sabem sentir. São elas que dão o alento, que fazem avançar a roda quadrada em que tudo isto se tornou.

Uma sociedade que solta mais as raivas e os ódios e se esquece do amor, está doente e precisa de cuidados especiais. A ânsia de chegar ao topo, de ser o que está mais acima, faz esquecer a base, aquele tão importante pilar que deve ser sólido para que o edifício nunca entre em colapso.

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