Proximidade é isso que deseja um político. Proximidade com o eleitorado. Foi precisamente isso que as redes sociais trouxeram. Nunca antes tinha sido criado um canal de comunicação tão directo e com possibilidade tão grande de diálogo com a população. Superior a qualquer comício. É caso para dizer que as redes sociais vieram mudar o mundo, inclusive, o mundo da política.
Fácil, barato e rápido. O político dialoga com o eleitorado e vice-versa. No mesmo instante em que deixa uma mensagem, recebe o feedback das pessoas. Uma fonte inesgotável de sugestões, de novos pontos de vista. Assim, é muito fácil conhecer os anseios do povo para fazer as propostas mais “simpáticas”. É o chamado marketing político nas redes sociais. Uma tendência que veio para ficar.
Não existe melhor exemplo do que as campanhas de Barack Obama, de 2008 e 2012, para ilustrar este novo conceito da política actual. Eleito e reeleito maciçamente depois de desenvolvido um trabalho muito inteligente nas redes sociais. Hoje, Obama conta com aproximadamente 35 milhões de seguidores no Twitter, 36 milhões no Facebook e 2,3 milhões de seguidores no Instagram, isto sem mencionar o perfil da Casa Branca. A adicionar a esta lista – milhares de milhões de visualizações no seu canal do YouTube. Aliás, em Portugal o presidente dos Estados Unidos da América lidera a lista dos políticos com mais “likes” no Facebook, derrotando Cavaco Silva.
Como construiu Obama a sua imagem no online? Além dos perfis criados nas redes sociais, fez o “YouBama”, um canal de vídeo onde os usuários deixavam as suas mensagens, dizendo porque iam votar, ou não, nele. Depois de eleito não eliminou qualquer página criada, antes pelo contrário, reforçou ainda mais a sua imagem na web. 48 horas depois de estar no poder já estava activo o change.gov, um site criado com o único propósito de receber sugestões, opiniões e críticas sobre o seu mandato. Simultaneamente, o site possui um blog sobre o que faz Obama e ainda ensina à população os princípios básicos da administração pública. Todas as semanas deixa uma mensagem no seu canal do YouTube e agora, perante o declínio da sua popularidade, Barack Obama tem apostado, uma vez mais, tudo no online com a presença intensiva nas redes sociais, naquela que já é considerada a maior acção digital do ano (2014).
Dilma Rousseff também está preocupada com a queda na sua popularidade. Consciente do poder que tem o marketing online, tem participado nos últimos tempos em encontros com especialistas em redes sociais. A ideia é criar um grupo responsável pela comunicação do governo nas plataformas digitais, para fazer face às sucessivas manifestações que se têm registado no Brasil. É que, até ao momento, o governo de Dilma tem tido uma presença apática nas redes sociais. A sua comitiva não tem sabido aproveitar os benefícios da web. Segundo os gurus do marketing digital não basta procurar os medias sociais em momentos promocionais, ou de crise, é necessário estratégia, planeamento e inteligência para criar empatia a quem está do outro lado do ecrã. O silêncio não é uma boa estratégia, o eleitorado exige respostas.
Por cá, os políticos ainda não sabem explorar as potencialidades da web 2.0. Na maioria dos casos, limitam-se a usar as redes sociais de forma pouco profissional, como seja na divulgação de notícias, discursos, ou actividades, não acrescentando nada aos conteúdos das campanhas tradicionais. É unanime que as redes sociais são uma mais-valia para as campanhas políticas, como também é sabido que uma palavra, uma frase, ou uma imagem mal pensada podem causar um efeito demolidor. Foi o que aconteceu a António José Seguro, quando, presume-se, empolgado pelo momento, deixou na sua página oficial do Facebook o seguinte desabafo:
“Leio, indignado, as sondagens do Expresso e do jornal i que dão uma queda brutal ao PS.
Este é o resultado da irresponsabilidade do António Costa.
Os danos provocados ao PS devido à sua ambição pessoal!
Um PS em queda, depois de termos ganho as eleições europeias e do Governo ter chumbado pela terceira vez no Tribunal Constitucional.
Lamentável.
O PS não merece isto!”
Tentar manchar a imagem dos adversários não é pelos vistos a melhor estratégia a adoptar. Depois disto, a página do actual líder do PS foi imediatamente bombardeada por dezenas de comentários negativos. Para os especialistas este desabafo foi “um acto de suicídio”. É que uma má estratégia rapidamente pode fazer do candidato motivo de piada e de antipatia. Pedro Waengertner, coordenador do Núcleo de Estudos e Negócios em Marketing Digital da Escola Superior de Propaganda e Marketing, em São Paulo, afirma que “ a maioria dos políticos tem a mentalidade de falar para os eleitores e não com os leitores”.
Certo é que nunca antes na História existiram tantas pessoas ligadas à mesma plataforma. Se antes a opinião pública era resultado de veículos de comunicação tradicionais como a televisão, a rádio e o jornal, hoje, na Era da Web 2.0, as redes sociais comandam a comunicação no seu expoente máximo, influenciando até o eleitor na escolha dos seus candidatos. Aliás, nenhum outro meio cativa tão eficazmente os jovens, a maior fatia na actualidade de abstenção, e os políticos têm cada vez mais consciência disso.