Autoria e colaboração: a verdade por detrás de O Messias

O Messias de Handel, uma das mais conhecidas peças musicais do mundo, poderia ser conhecida actualmente como Messias de Jennens, de acordo com cartas autografas do próprio Handel, que corroboram esta colaboração totalmente desconhecida. Numa dessas cartas, de 29 de Dezembro de 1741, dirigida ao próprio Jennens, Handel refere-se à obra musical como “o seu oratório Messias”. Uma outra, de 9 de Setembro do ano seguinte, revela como espera notícias de seus amigos que vivem na Irlanda, para saber como “a sua obra foi recebida naquele país” As cartas irão ser agora expostas ao público numa exposição que procurará revelar a verdadeira história por detrás da música e da qual fará parte um piano, o qual peritos acreditam que foi o primeiro piano britânico, trazido da Europa Continental por Jennens, por volta de 1732 e tocado pelo próprio Handel.

Charles Jennens foi um rico mecenas, que viveu entre 1700 e 1773, e terá escrito o texto que serviu de base para a música de Handel. Este facto, conhecido e estudado por académicos, tem sido ignorado em quase todo o mundo. Graças a estas cartas percebe-se agora que a criação artística de Messias se deveu à sua enorme influência e inspiração. Não só foi o autor do texto, como designou Handel como o compositor desta obra. Aliás, teria sido com bastante insistência que teria pressionado o compositor para que o oratório visse a luz do dia.

Embora sendo completamente desconhecido junto do público em geral, foi ele quem teve a ideia original de criar o Messias, defende Sarah Bardwell, directora da Casa Museu Handel, sedeada em Londres, na casa onde Handel viveu durante mais de 30 anos. Não só terá escolhido as passagens que se adequavam melhor ao texto, como terá feito inclusive sugestões ao próprio compositor. Sem ele, arrisca Sarah Bardwell, muito provavelmente não teria existido o Messias.

Embora lhe tenha sido atribuída a autoria do texto desta composição musical pelos seus contemporâneos, as crenças religiosas e opiniões políticas divergentes de Jennens, terão tido como resultado o seu afastamento da autoria do oratório. Mas a sua influência sobre Handel é inquestionável, apesar deste anonimato, mesmo nos círculos académicos musicais.

Handel. Em destaque, Charles Jennens .
Handel. Em destaque, Charles Jennens .

Para além desta colaboração com Handel, Jennens e o compositor cooperaram igualmente nos oratórios Saul e Baltasar. Jennens foi também a primeira pessoa a publicar as peças de Shakespeare em volumes únicos, produzindo as primeiras edições modernas de O Rei Lear, Hamlet, Otelo, Macbeth e Júlio César, durante a primeira metade da década de 1770.

A Casa Museu Handel dedica agora uma exposição ao mecenas, exibindo retratos, cartas autógrafas e mesmo a partitura do oratório Saul, redigida por Handel e com alterações efectuadas por Jennens.

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