Quando me perguntam em que acredito, não me é difícil identificar os três principais valores que a minha família, e o meu instinto, me levaram a privilegiar: amor; justiça; lealdade. No fundo, uma sociedade construída sobre estes pilares seria muito mais benevolente, forte e estruturada do que qualquer outra. O problema torna-se mais agudo quando nos deparamos com a falta de princípios, estes mesmos, na nossa comunidade. O mundo parece enlouquecer a cada segundo – mas acredito que sempre assim foi, já o descrevia Eça de Queiroz, José Saramago e tantos outros escritores que nos deixaram o seu testemunho. O que faremos nós, os poucos sonhadores que restam para recuperar a sanidade de um mundo (talvez não tanto) perdido?
Ao longo deste ano de 2015 vimos muitas palavras a cruzar ventos, muitos aviões a despenharem-se e muitas vidas a perderem-se, na sua maioria, graças a uma falta de humanidade. Rios de tinta e bytes de informação foram correndo e desfilaram perante os nossos olhos. “São opiniões”, diriam alguns. Mas de que foi feito o mundo, a conquista de Portugal, a União Europeia e o universo sem ser de opiniões? Tudo começou com um individuo a proferir meia dúzia de palavras, mais ou menos elaboradas, mais ou menos coesas, com alguma ou pouca lógica. Palavras que eram apenas opiniões tornaram oficiais golpes de batalhas, levaram a que guerras fossem ganhas, territórios conquistados e à (des)reunião de muitas outras comunidade. Estas não foram singelas letras proferidas e levadas pelo vento. Ficaram e marcaram a sua posição. Mas “humanidade” parece não ter sido uma delas.
No meio de tanta actividade, onde – positivamente – todos podem expressar a sua opinião, torna-se vital ouvir e perceber o que é mais do que isso. É preciso agir e lutar pelos valores que nos foram incutidos para que, no meio de tanta palavra, alguma possa elevar algo maior que todos nós. É necessário parar de retratar o velho mundo poluído com humanos, dos quais só resulta desgraças, pois são conspurcados com ódio, medo, corrupção e capitalismo. A todos estes palavrões, “homem” parece ser o pior deles todos. Já ninguém é mais do que ninguém, mas todos parecemos pior do que somos. O passado e a era de ouro onde os bons homens habitavam parece ser, apenas, mais uma fábula da qual não possuímos a mais vaga memória. Estamos condenados a uma vida onde mais de metade do mundo tenta derrubar a outra metade. Mas nada disto é verdade. A palavra que, simplesmente, mas nitidamente nos falta é “humanidade”.
Numa era em que tudo tem de ser perfeito e estar pronto para o “ontem”, de modo a existir um “amanhã” melhor, esquecemos-nos que somos pessoas. Pessoas que deviam ter mais valores que opiniões. Pessoas que deveriam ser mais do que um funcionamento produtivo, efectivo e capaz de gerar inúmeras quantias monetárias. Somos humanos que se esqueceram de olhar para o seu âmago, com medo de serem atingidos ao expor a sua fragilidade. E é bem aí que todos falhamos.
Perder a terra e só ver mar à vista deveria ser o comum, e não o inverso que é o que acontece actualmente. Esquecemos-nos, enquanto Homens do mundo, que a nossa vida é apenas uma fração daquilo a que chamam eternidade. E é uma fracção tão pequena que deveríamos lutar, em conjunto, para que se pudesse tornar maior. Não vou perder o meu tempo ou batidas no teclado a explicar a importância do amor ao próximo, da solidariedade humana, da necessidade da protecção do ambiente ou de um dos milhões de problemas com que o mundo deveria estar a preocupar-se agora, em vez de querer ser o mais rico e mais poderoso. Muito menos irei ocupar o vosso tempo no Facebook, noutras redes sociais em que passam para criticar outro, para vos relembrar que essa não é o motivo para o qual nasceram e que têm um objectivo muito maior do que odiar o trabalho em que se encontram. Só vos relembro e tomo o tempo suficiente para que escutem esta palavra: “humanidade”.
Aparte discursos moralistas, este ano pôs-me a pensar que os valores não são o que falta a esta ou aquela geração. O que falta é conhecimento destes valores e a sua incorporação nesse mesmo umbigo para o qual perdem tanto tempo a olhar. Se neste momento estão a pensar “se eu não lutar pelos meus interesses, quem mais é que irá olhar?” fiquem a saber um bocadinho destes meus últimos dias, para perceberem que tudo é possível. A minha melhor prenda de Natal foi o meu primeiro fato que estou realmente ansiosa para estrear. Estudo Direito e sempre tive o objectivo de fazer muito dinheiro, aplicando a lei que tantos dizem ser lenta e ineficaz. – Até este ponto da história tudo o que me vêem fazer é olhar para o meu próprio umbigo, a lutar pelo que quero ser e ter – Mas na verdade, quando olho para este meu adorado fato o que penso é no que vou poder verdadeiramente fazer com as leis e as pessoas que vou poder ajudar, enquanto ganho uma pipa de massa. Mais do que dinheiro, quero ser leal aos valores que me foram incutidos e usar todo o amor que sei que existe neste mundo. Por isso, ao fazer algo meramente pelo meu umbigo estou, simultaneamente, a querer ter “humanidade”. Defender o direito de cada um, melhorar leis, contribuir para que o sistema jurídico funcione mais efectivamente, entre outras mil coisas vão-me ser possíveis porque tenho este fato. E é isso que pode fazer, hoje mesmo. Sempre quis conduzir a alta velocidade e serpentear o mais que podia por entre carros? Vá ser condutor de uma ambulância porque essa sua habilidade pode salvar a vida de alguém! Independentemente do que seja, aprenda o que é a “humanidade”, sem ter de se esquecer dos seus interesses.
Muitos olharão para mim como uma tonta iludida ou uma sonhadora que rapidamente enfrentará o mundo e perceberá que nem tudo é assim tão simples. Mas lembra-se do que eu disse no início? “O que faremos nós, os poucos sonhadores que restam para recuperar a sanidade de um mundo (talvez não tanto) perdido?”. Somos poucos, talvez raros, mas ainda podemos mudar o mundo, com uma gota no oceano de cada vez. Vai esperar até ao inicio de que ano para se juntar a nós e fazer a diferença, um bocadinho de cada vez?