Um dia destes, sem querer, deitei-me em cima do comando da televisão e surgiu o canal HBO no ecrã. Dizia: “Para si” e, por baixo, a série “The Staircase”. Achei interessante ter uma sugestão de interesse, visto que raramente lá entro. Pensei: “deixa cá ver se realmente me conhecem”.
Não é que fiquei presa logo nos primeiros minutos? É assim que se apanham moscas! Temos de ser rápidos.
Concluí o que já sabia. Somos constantemente analisados e é-nos oferecido aquilo que nos interessa, com base em pesquisas anteriores. Acontece, também, com os telemóveis na apresentação e sugestão de produtos, lugares, viagens e amizades.
Depois destas breves constatações, dediquei-me a ver uma série, algo que já não acontecia desde os “Peaky Blinders”.
Primeiro, para minha satisfação, é baseada numa história real. O ator principal é o Colin Firth, de quem gosto. É uma série apenas com uma temporada de oito episódios, com cerca de uma hora cada. Perfeito, pensei. Se fossem demasiadas temporadas e quinhentos episódios, provavelmente, tinha-a logo posto de parte. Portanto, bingo!
A cada episódio, vamos sendo presenteados com mais informações e detalhes, as nossas dúvidas vão sendo dissipadas. Em doses controladas, como o açúcar. Sempre em torno do tema principal – as escadas. O que é que realmente aconteceu? Foi um acidente ou um homicídio?
E esta expectativa vai sendo alimentado e apimentada, gradualmente. Calculamos o que se passou, mas nunca temos a certeza; existe sempre uma aura de mistério e suspense, combinados, que nos deixam, ligeiramente, ansiosos.
O mesmo cenário vai-nos sendo oferecido com diferentes possibilidades. Qual é a verdade?
Algumas coisas vão sendo descortinadas com a alternância entre presente, passado e futuro. Essa métrica dá algum ritmo e mantém-nos agarrados.
O processo legal, no estado americano da Carolina do Norte, levou anos, com avanços e recuos, e uma decisão deliberada por um painel de pessoas escolhidas aleatoriamente, que compunham o júri.
Será a justiça apenas o resultado da forma como é percepcionada? Cada indivíduo julga de acordo com as suas próprias experiências e de acordo com aquilo que considera ser a verdade e, muitas vezes até, daquilo em que quer acreditar, mesmo contra várias evidências em contrário.
Aquilo que alguém vê como sendo verdade, outro pode ver como sendo mentira.
É neste jogo e nuvem de ambiguidade, que paira na pele do escritor Michael Peterson, que somos levados a questionar se ele é o vilão ou o inocente.
A mulher, Kathleen, é fantasticamente interpretada pela atriz Toni Collette, assim como Michael pelo talentoso Colin Firth, que, mais uma vez, dá provas de ser um excelente ator.
No fim, morrem todos.
Acham mesmo que vos ia contar o fim?