A expressão “O que é feito de ti? Nunca mais disseste nada” é-vos familiar? São duas perguntas que, quando conjugadas, irritam-me bastante.
Normalmente advém de alguém com quem convivemos durante um período de tempo e que a determinada altura saiu do nosso raio de interação. Normalmente, advém de alguém com a qual teríamos uma relação quotidiana que se mascarava de amizade.
Já se lembraram de uma mão cheia de pessoas das vossas relações que se enquadram nesta descrição?
Quando as pessoas saem da nossa área de interação, sem ser por nossa ação direta, usualmente é porque há um afastamento físico (mudança de trabalho, de cidade, de rotinas, etc.) e posteriormente porque essa relação era ocasional e, entretanto, foi substituída por outra, provavelmente também temporária e com pouco investimento individual.
Relacionamo-nos com muita gente só porque fazem parte do circuito de relações das nossas relações, e porque somos seres que procuram naturalmente viver em grupos de congéneres.
A amizade, tal e qual o amor, é uma relação a dois.
E tal e qual uma relação amorosa, é muitas vezes desequilibrada, em que uma das partes investe mais energia, mais tempo e mais dedicação que a outra.
E tal e qual como numa relação amorosa há quem se mantenha nessa relação e há quem se desapegue, ou “desapareça” e nunca mais diga nada.
A amizade não é algo eterno, é um ser invisível que se alimenta, para o qual se contribui e na qual é necessário investir. Não significa isto que estejamos sempre em contato ou a partilhar os detalhes íntimos da vida. Eu não o faço nem com as amizades que mantenho constantes na minha vida, as de muitos anos e as que vão surgindo.
Tenho-me desapegado de muitas, algumas tóxicas, outras ocasionais. Não é um processo imposto, é um desgaste que acontece alheada e lentamente.
Por isso, quando me abordam com um “Então, não tens dito nada?”, embarco num momento senil e retribuo :
“Então, pah!! Que é feito de ti?! Não tens dito nada?!”