Isto de ser Mulher!

Mulher

Noutra encarnação quero nascer como homem! Quantas vezes já ouvimos e isto e, quem sabe, quantas vezes o pensámos ou mesmo o dissemos?!

Isto de ser Mulher tem muito que se lhe diga: tem tanto que não chega um artigo de opinião nem, tampouco, um livro de 1000 páginas! Mas afinal o que é  “ser Mulher”? A pergunta é simples e directa, mas a resposta? Perante esta questão percebi que não sou pessoa que consiga afirmar com clareza é isto ou é aquilo, assim, procurei saber: perguntei a várias mulheres o que é para elas o se-lo e é com base nessas respostas que hoje escrevo.

Ser Mulher é mais do que nascer com os dois “normais” cromossomas x! Quer dizer, biologicamente até pode ser isso! É essa pequena/grande diferença que nos faz nascer com características físicas atribuídas ao sexo feminino, mas isso não basta! Ser Mulher é mais do que ter ou não um pipi! Quando numa ecografia a técnica procura ver entre as pernas de um bebé e anuncia “é uma menina” na cabeça dos pais (na sua maioria) flui um rio cor de rosa! Sim porque, se vem aí uma menina, tem de ser uma princesa! Mas tem? E o conceito de princesa é mesmo qual?

Tentei encontrar mulheres diferentes: solteiras, casadas, divorciadas, mães, sem filhos, mulheres de carreira, aventureiras, donas de casa, diferentes orientações sexuais… Mas todas elas referiram algo em comum: ser Mulher é ser tudo ao mesmo tempo!

Quando nasce uma mulher, nasce com ela um mundo de expectativas quem sabe muito superiores às dos indivíduos do sexo masculino. Em tempos idos, se nascia o filho varão, a linhagem estava assegurada, mas se nascesse a menina era procurar cedo um marido que a conseguisse sustentar, e, em troca, ela estaria preparada para ser a mulher perfeita: saberia estar, saberia ser linda e arranjada, saberia bordar, cantar, quiçá tocar um instrumento, seria submissa, manteria a casa impecavelmente arrumada e limpa e prepararia manjares para o seu esposo. Guardar se ia para o casamento, a sua virtude imaculada para que, na altura correta, garantisse a continuidade da linhagem do seu amado esposo: filhos, vários filhos! E como estaria a mulher preparada para tudo isso: treino, muito treino! Em pleno século XXI ainda há culturas onde este relato é a norma, felizmente a nossa cultura ocidental encarregou se de nos fazer esquecer estes tempos.

Contudo, nos dias que correm, na nossa sociedade, a mulher trás ainda nos ombros o peso desta herança, ainda se espera demasiado dela: todas as mulheres que questionei me referiram isso: a sociedade espera que sejamos de determinada forma e isso, por si, é uma carga colocada aos ombros. Uma amiga dizia “se tens quarenta anos e não tens filhos, ou pior: não tens um marido, das duas uma: ou estás avariada ou és lésbica”. E daí??? Efectivamente, ser mulher tem de ser mais que parir bebés e ter marido: ninguém é menos mulher por apostar na carreira, por investir em si e por escolher estar sozinha! A mulher que escolhe não ser mãe, escolhe ser mil e uma outras coisas!!

E se for lésbica? A orientação sexual faz de alguém menos mulher? Menos humana? Não escolhemos quem amamos: amamos e pronto! E se esse amor não for o clássico Romeu está tudo bem na mesma: o amor vem de muitas formas e, se o mesmo for entre mulheres qual será a diferença.

Isto de ser Mulher tem, realmente, muito que se lhe diga e em pleno mês de Março, quando se comemora o Dia Internacional da Mulher, julgo ser importante falar um pouco no feminismo.

Atenção: feminismo não é (de todo) o mesmo que femismo! Este último, à semelhança do seu equivalente machismo, é um extremo ao qual não queremos pertencer. Na realidade, ser feminista não é ser contra os homens, é simplesmente procurar um ponto de equilíbrio: uma igualdade de direitos e responsabilidades, um equivalente de competências, um reconhecimento justo de que uma mulher vale tanto como um homem!

Perante tantas posições negativas e centenárias sobre o “lugar” da mulher na sociedade, o feminismo surge como um movimento social que defende simplesmente isso: a igualdade! Um princípio básico que, inicialmente, nos chega pela mão de um homem: William Godwin que, em pleno século XVIII, se apresenta como um defensor do divórcio, opositor do casamento e, até mesmo, defensor de poligamia, tudo atitudes que, até então, eram consideradas normais num homem e uma afronta numa mulher.

Mas fará sentido, nos dias de hoje, ainda falar em feminismo?

Perguntei isso mesmo às mulheres com quem falei: o que é para ti o feminismo?

As respostas foram diversas mas todas elas se uniram num mesmo ponto: o feminismo, hoje, passa essencialmente por mostrar que as diferenças entre homens e mulheres não podem ser rígidas, há um longo caminho a percorrer para encontrar o ponto de equilíbrio e, sim, as diferenças ainda existem: nos salários, nos horários de trabalho, na pressão social, etc. No entanto, também estás mulheres referiram que, infelizmente, a maioria das auto-intituladas feministas que conhecem pertencem à classe das femistas e mais uma vez afirmam que este extremo não é bom! Ser pelas mulheres não pode nunca ser contra os homens.

Fiquei a pensar nesta questão: afinal tenho uma filha e sim, sou pró-feminismo.

Sou, porque acho que ser Mulher é ser lutadora e dar a cara por todas nós, é ser orgulhosa de si, do seu corpo, da sua mente! É sentir orgulho em si mesma, mesmo que haja dias duros: é levantar a cabeça. É ser Tudo e Nada ao mesmo tempo. É ter uma voz e saber usá-la. Ser Mulher é ser um compêndio da sabedoria de todas as que vieram antes de mim e poder deixar também a minha marca para as que virão a seguir. Ser Mulher é não desistir de lutar pela igualdade, pela equidade e pela justiça. Ser Mulher é ser um corpo livre e belo: de todas as formas, de todas as cores, de todos os tamanhos.

Ser Mulher é ser o que se quiser e celebrar se a si mesma todos os dias!

Metade do mundo são mulheres. A outra metade os filhos delas.

— Efu Nyaki

Share this article
Shareable URL
Prev Post

Quem é que paga o jantar num primeiro encontro?

Next Post

A Coreia do Sul, tão perto

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.

Read next

O fim de um ícone?

Falar de património arquitectónico é falar dos valores estéticos e históricos de uma obra a que o tempo reservou…

O S. João no Porto

O Porto é sentido por quem cá vive. É uma forma de estar que se apanha e entranha. O Porto é sentido pelos que…