Penso, logo Existo

Penso logo existo, mas agora o lema é outro: Eu mostro a minha indignação no Facebook logo existo, mas será que essa indignação não passa de demagogia de sofá? Numa grande parte dos casos, os comentários são apenas ovelhas no rebanho da informação em massa.

Agora é tão fácil mandar postas de pescada, é tão fácil ser um paladino da cidadania no Facebook, mas e na vida real? Somos todos assim tão cáusticos e pragmáticos fora do Facebook?

Somos juízes e especialistas em tudo, comentamos tudo, somos omnipresentes e respiramos indignação à frente do computador, em casa ou no telemóvel. Porém, as ondas mediáticas só são surfadas, quando estão na moda. Todos temos direito à nossa opinião e a liberdade de dizer o que quisermos, mas banalizar a nossa opinião e transformarmo-nos em simples comentadores da moda não é la muito pragmático.

Claro nem toda a gente é assim. Generalizar é outro dos graves problemas das redes sociais. Generalizamos, somos advogados de defesa, de acusação e tudo o que nos dizem é uma verdade absoluta. Ainda bem que ainda existe muita gente que consegue ser concisa e objectiva no meio de tanta informação, contra-informação e ruído cibernético.

Para muita gente os campeonatos de soundbites sem audiência não valem nada e a roupa suja que se lava no Facebook parece que é uma espécie de luta de gladiadores online. Podemos ficar a ver Roma a arder, não podemos deixar que a indignação em massa transforme a sociedade numa distopia tecnológica.

Indignação fingida na comodidade do lar permite facilmente caçar Likes, mas e na vida real? Agora é tudo Charlie, mas só quando convém. O falso moralismo e a demagogia também andam no Facebook.

O populismo nas redes sociais é o reflexo de uma sociedade muito virada para o show off e para os temas mediáticos do momento, mas depois, quando o borburinho passa, parece que as pessoas se esquecem que o problema ainda existe e passam para o tema seguinte, porque se já não está na moda já não vale a pena.

A caça as bruxas é muito gira, quando somos activista de sofá. No Facebook, somos todos feministas, politólogos, solidários, etc… ficamos ofendidos por tudo e por nada, mas na vida real, muitas vezes, é diferente. É tão giro agarrar nos archotes e nas forquilhas e caçar bruxas e mandar bocas, mas só quando é uma indignação em massa. Só assim é que é cool.

Portanto, o Facebook é uma faca de dois gumes.

Como uma grande parte das realizações humanas depende de uma coisa muito simples – ética e coerência, uma ética e uma coerência entre o que defendemos no Facebook e na vida real.

Inside every cynical person, there is a disappointed idealist.

(George Carlin)

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