A lei da aleatoriedade e o princípio da causa e efeito referem que as coisas ocorrem sob a forma de aleatoriedade, ou seja, elas simplesmente ocorrem sem nenhum motivo, sem um propósito ou por meio da imprevisibilidade.
O Estoicismo, muito em voga nos dias de hoje “é uma escola de filosofia helenística que floresceu na Grécia Antiga e na Roma Antiga. Os estoicos acreditavam que a prática da virtude era suficiente para alcançar a eudaimonia: uma vida bem vivida. Os estoicos identificaram o caminho para alcançá-lo com uma vida praticando as quatro virtudes na vida quotidiana: sabedoria, coragem, temperança ou moderação, e justiça, e vivendo de acordo com a natureza. Foi fundada na antiga Ágora de Atenas por Zenão de Cítio por volta de 300 a.C..” (in Wikipédia)
Sistema filosófico que, como afirma Epicteto, em Discurso 1.15.2, tradução revista por Robin Hard: “A filosofia não promete assegurar nada externo ao homem, caso contrário estaria admitindo algo que está além do seu próprio tema. Pois assim como o material do carpinteiro é a madeira, e o da estatuária, o bronze, o tema da arte de viver é a própria vida de cada pessoa.”
Desta forma, há quase cinquenta anos, que questiono, sobre quem sou, porque sou ou porque estou.
Sem uma resposta plausível à vista, fácil seria colocar um ponto final à mesma, porque o que quer que tenha feito até aqui, em nada justificam as acções para a responsabilidade individual que cada um tem, de modo a sobreviver numa sociedade capitalista, a qual obriga a pagar as contas do dia-a-dia para sua própria sustentação. E, contrária à filosofia estoica, baseada no TER em função do SER.
Duvido que todos procurem um sentido para a sua vida. Ainda assim sou uma resiliente e que acredita na esperança da humanidade.
Talvez porque a literatura, como refere Lídia Jorge, é “um permanente treino da alteridade.” Os “escritores são seres de liberdade e de libertação dos outros.”
Talvez por isso continue no caminho da procura.
Por isso duvido. Nem sei, tampouco, se é algo das gerações actuais. Se sempre existiu ou, simplesmente, a ninguém importava. Ou ainda questionável porque, no fundo, o que procuramos fora de nós… “num amor, no trabalho, na escola”, considerando que isso “nos ajuda a definir quem somos” é suficiente para a rapidez com que o dinheiro se move dos bolsos das pessoas.
É um contra-senso afirmar que, com o absurdo dos nossos dias; socialmente enraizado na lei do consumo, que obriga a agir em função das “contas para pagar”, e a incoerente loucura de homens narcísicos e paranóicos, que oprimem pela autocracia; encontrar significado no que fazemos não deixa de ser, por si só, uma verdadeira insanidade.
Como se para se existir um sentido de vida fosse necessário TER algo para o demonstrar.
Como se, na inexistência de algo que comporte as necessidades básicas do indivíduo, o significado da vida também deixasse de existir.
Daí que adicionar vida aos dias e não dias à sua vida, uma frase cliché para “suportar” as dores que sacolas vazias não alimentam.
E, de frases clichés, ou comportamentos que as valham, está o Português inundado, pelo que ficam umas tantas outras que podem nada ter em comum com o texto, todavia que me parecem interessantes pela forma como apelam à reflexão de si mesmos. Importante para que se encontre um significado para a vida.

“Qualquer via é apenas uma via, e não existe afronta, para nós ou para outros, em deixá-la, se for isso que o teu coração disser… Olha para cada caminho atenta e empenhadamente. Experimenta-o tantas vezes quantas achares necessárias. Depois põe a ti próprio, e só a ti próprio uma questão… Esta via tem alma? Se tem, a via é boa; se não tem não serve.”
Carlos Castaneda, The Teachings of Don Juan
E, há tantas outras, pensamentos e acções que se podem fazer…
Porém, o tema é específico, sendo necessário fazer um apontamento às regras da sociedade, exigindo-as a cada pessoa, para que mantenha e transmita, fazendo com que se sinta integrada (digo, padronizada) no que a elas dizem respeito.
Será que, ainda assim, é possível encontrar um sentido para a vida, sendo cada um, o responsável porque é consumidor, e que perpetua o sistema económico que o tornam dependente?
Uma espada de dois gumes esta!
Será que, sem as três primeiras necessidades básicas do indivíduo (fisiológicas, segurança e sociais), se consegue garantir uma reflexão sobre o propósito da vida? Sem casa, trabalho, alimentação ou interacção, podemos falar; ou sequer, temos condições físicas e emocionais para o fazer; sobre o que nos motiva e define enquanto seres humanos? Observações e argumentos que cada um pode fazer se tiver em conta o mundo global e não individual, porque é a empatia que permite e garante essa possibilidade. A da vida ter um significado e que define quem se é.
A personalidade deriva da palavra grega persona que significa “a máscara”. Enquanto usarmos essa máscara, que absorve cada um na obrigatoriedade das rotinas diárias e, no que é aceite, facilmente nos dispersamos do que é a tónica deste texto. O propósito de vida. O sentido ou significado. Ou, no fundo, talvez, a felicidade seja a palavra mais interessante a usar. Facilmente, podendo enveredar por um caminho de misticismo e esoterismo, quando o que é relevante é a razão, ou como no Estoicismo, “logos, um princípio divino que permeia tudo”, propondo “que os homens vivam em harmonia com a natureza”, o que significa “viver em harmonia consigo próprios, com a humanidade e com o universo.”
Repetindo, “persona” significa “a máscara”. E, esta é resultante de heranças culturais, vivências e experiências que o próprio vai adquirindo ao longo da sua vida. É a sociedade que nos impõe a essa máscara e nos impele a usá-la. Uma limitação de si próprio e, que muitos ignoram que algo diferente possa existir, permanecendo nesse estado ilusório e fazendo dela a sua forma de ser.
Acredito que é possível descondicionar-se, que é possível escolher um caminho adequado que permita o fluxo de energia capaz de transmutar emoções e comportamentos. Porque a vida é confundida por tramas de problemas, muitos dos quais, criados ou permitidos por si mesmos. Teias da vida que se interligam e, que muitas vezes, são impossíveis de ser cortadas porque são tecidas por outros, aos quais não temos acesso. Tomar consciência disso é capacitar-se para a libertação.

À parte deste parágrafo inescrutável, fica a pergunta: tendo em conta o mundo e a sua perversa complexidade, será possível, às gerações actuais, encontrar um significado para as suas vidas?
Qual o sentido para a sua vida?
Na moda estão conceitos, preceitos, regras e directrizes de qual caminho a seguir.
Por todo o lado, encontramos filósofos e filosofias, estupidamente comercializados e pateticamente exagerados, dimensionados numa bolha de protecção, eufórica e humoristicamente hiperbólica, incapazes de se integrarem ou fazerem sentido para o caos que se encontra ao redor. Dificultando ou confundindo a resposta a dar. Ainda assim, que nos faz querer ter um propósito e ajudar a definir quem somos.
Será que estamos preparados para encontrar esse significado e, se sim, que propósito é esse se não tivermos o que comer, onde morar, roupas para usar ou, se amanhã estaremos neste lugar?
Eu, porém, continuo no caminho da procura. Com a certeza de que, ainda que não encontre o sentido da vida, esta continuará a mover-se e, a única estagnação é da própria pergunta, que se mantém presa a esse significado.
Nota: Texto escrito com as regras do antigo acordo ortográfico
Tantas vezes que penso que estamos afunilados num beco sem saída. Excelente artigo.
Olá, Olinda!
Obrigada!