O conceito de confiança é extremamente importante e muitas vezes é um conceito que é limitado. A confiança abrange muito mais, não é só nas relações amorosas e familiares que ela é importante.
A confiança e o acto de confiar em alguém é muitas vezes confundido com o “deixa andar” e o desconfiar com interrogatório. Ao confiar em alguém, estamos também muitos de nós a prender a alma num cordão umbilical de expectativas e fasquias. A vida é uma maratona de costas, sempre a correr sem saber, quando é que nos aparece um obstáculo, e confiar em valores e em ideais é um exercício de ginástica ética.
Portanto, a ética pressupõe um nível de coerência que exige muito de nós. Para ser um porreiro, um gajo fixe, é necessário ter uma ética e um sentido de certo e errado muito apurado. A confiança e a ética são fixes, porque nos fazem acreditar que, apesar de tudo, ainda existe bondade no meio de tanta maldade e descrença.
Passa-se muito tempo a falar e a teorizar o conceito de cidadania que também é um exercício de confiança e de consciencialização continua. A cidadania é a materialização dos nossos direitos e deveres, a ponte de participação entre um individuo e o governo, as associações e com todas as pessoas que dela fazem parte.
Eu sei que isto na teoria é muito bonito, mas depois na prática temos muitas barreiras e anticorpos, nomeadamente na parte da participação politica, a demagogia, o populismo e uma serie de arquétipos políticos que só contribuem para o descredito da democracia. Continuamos a ter um sistema politico partidário que funciona de dentro para dentro, mas a politica é muito mais do que isso. Esquecemos nos que politica também é, ou deveria ser, a defesa de valores sociais.
Será que quem possui uma consciência politica tem necessariamente de ter uma ideologia politica de “lados” esquerda, direita, centro, etc.?
É uma questão complexa, mas uma coisa é certa, a dinâmica, a faísca de qualquer comunidade esta assente em valores éticos, que nem toda a gente tem, mas sem esses valores não temos essa faísca, essa energia. Essa energia, essa dinâmica só é possível graças ao voluntariado, ao associativismo, às colectividades, à arte, ao desporto, às tradições… tanta coisa que faz parte de um conceito moderno de cidadania.
Os tempos mudaram, falamos de tanta coisa que há uns anos não existiam ou estavam escondidas e que agora são discutidas. E essas novas realidades têm de ser materializadas em novas leis.
A cidadania é, portanto, um processo de consciencialização continua, primeiro, porque temos de estar constantemente a absorver conhecimento e a comparar realidades. Noutra perspectiva temos também de ter a noção da importância do diálogo e da sensibilização para questões, como os direitos humanos, a equidade de género, o ambiente e a globalização.
Uma educação para a cidadania que seja global e criativa e inclusiva dos jovens e menos jovens sempre, numa lógica de diálogo e aprendizagem inter-geracional.
A esperança é a ultima a morrer, mas é muitas vezes a primeira a cair. A esperança é como o Rocky, farta-se de ser testada e esmurrada, mas de repente consegue, no último murro, ganhar o combate. Ter esperança e confiança na tal ética é um exercício muito subjectivo e pessoal, mas sem dúvida que é uma luta que sempre nos ajudou em momentos difíceis da nossa história.
Chamamos de ética o conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos estão a olhas. O conjunto de coisas que as pessoas fazem quando ninguém está a olhar chamamos de carácter.
A ética e a cidadania são fixes, em todas as realizações da vida, trabalho, lazer e família. Portanto, temos de continuar a caminhar e a espalhar a mensagem que a ética é fixe.
Sem o auxílio da Educação, a cidadania vira pano de chão.