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Quanto mais envelheço, menos amigos tenho.

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Quando somos adolescentes sentimos que todos os nossos amigos são “para sempre” e a amizade representa um mar de possibilidades infinitas. À medida que vamos envelhecendo este “mar” parece tornar-se um “riacho” ou, não raramente, uma “poça de água”.

Ao confrontarmo-nos com isso, num qualquer momento de desaceleração da vida quotidiana, perguntamo-nos se há algo de errado connosco. Desejamos explicar por que é que a nossa realidade e as nossas crenças da adolescência se revelam agora irrealistas. Temos muitos “conhecidos”, temos poucos amigos e temos pouquíssimas pessoas na nossa vida cuja amizade nos acompanhe sempre e nos pareça inquestionável.

Devo desde já avançar que, em princípio, não há nada de errado consigo. A ciência parece, inclusivamente, validar a sua sensação de que os amigos diminuem com a idade. As razões para que tal aconteça são várias e não se esgotam no facto de termos menos estímulos sociais e nos vermos envolvidos em menos atividades que facilitam o estabelecimento de novos relacionamentos, coisas que não faltam quando somos mais novos.

Fiz algo errado?

Pense comigo: a verdade é que a sua vida está agora muito mais preenchida por obrigações laborais e familiares, o seu tempo livre é diminuto e, o pouco que existe, é usado quase sempre para as mesmas ocupações que, de um modo geral, estão muito distantes de saídas à noite e de festas cheias de pessoas com as quais se identifica e pode estabelecer um novo relacionamento.

Mais ainda, se estivermos a falar de pessoas muito mais velhas, ou com condições específicas de saúde, é natural que a sua condição física e/ou cognitiva já não lhes permita sair de casa com tanta facilidade e até mesmo viver autonomamente.

Acha que é a única pessoa que pensa que tem de concentrar a sua amizade em duas ou três pessoas, porque não tem tempo para “dividir” por muitas mais com qualidade? Não, não é. E não precisa de disfarçar, também sei que a este pensamento sobre as propriedades da divisão se segue muitas vezes outro: “não tenho paciência para alimentar muitas amizades, passar o serão ao telefone ora com este e ora com aquele, para não perder contacto com nenhum deles…”

Eu sei, caro Leitor. Esse pensamento atravessa a mente de quase todas as pessoas adultas, com trabalho e família (ou até mesmo sem ela), e está também na origem da redução do grupo de amigos na idade adulta. As amizades precisam de ser alimentadas e investidas de cuidados, interesses, tempo, partilha. A realidade dos nossos dias atolados em trabalho e responsabilidades não nos permitem, de um modo geral, fazer um bom investimento em todas.

Estas limitações associam-se a outras levando a um processo de inspiração “Darwinista”, ou seja, a uma espécie de seleção natural. Alguns amigos ficarão pela vida fora e outros, por mais que gostemos deles e eles também gostem de nós, ficarão mais distantes da nossa vida regular.

O ciclo da vida social

Na idade adulta, as escolhas, interesses e obrigações divergem muito de pessoa para pessoa, sobretudo, no mundo globalizado atual. Qualquer pessoa pode residir numa cidade e trabalhar noutra, ou termos residência num país e passarmos a maior parte do nosso tempo a trabalhar noutro. Quantas pessoas conhece que tomaram grandes decisões de trabalhar fora do seu país de naturalidade? Aposto que muitas ou pelo menos as suficientes para já ter sentido as limitações que isto impõe no leque de amizades.

É certo que as novas tecnologias nos facilitam a vida também neste caso. Podemos tomar o pequeno-almoço com aquela amiga que foi trabalhar para a Irlanda ou beber um chá com a outra que decidiu fazer o seu doutoramento à distância de um oceano. E isso ajuda muito, mas e os abraços? E a possibilidade de tocar à campainha dos seus amigos num momento mais difícil? A boleia num dia em que tudo parece complicar-se?

As amizades também precisam de oportunidades para partilhar o mundo físico e não apenas o virtual. E, neste ponto, estamos todos cada vez mais carentes e sozinhos. Noto inclusivamente, que quando mais trilhamos este caminho, mais solitário, mais difícil se torna para todos nós sair dele. Parece que quanto mais nos damos conta e desejamos sair, mais somos sugados para esse vórtice. A sensação de que já não somos capazes de voltar ,até mesmo às poucas e verdadeiras amizades que nos restam, é cada vez mais forte e paralisante.

Porque isto é real e parece afetar o bem-estar da maioria pessoas adultas, proponho-lhe um desafio. Escreva uma mensagem, faça um telefonema a alguém do seu leque de amigos verdadeiros, que têm resistido às intempéries do seu percurso de vida.

Sim, estou a falar do seu “riacho” ou “poça de água social”, onde se sente aceite e amado. Aproveite este desafio para combinar um encontro em breve. Depois, se quiser, venha contar nos comentários como foi, ou não venha… fique a aproveitar!

Nota: este artigo foi escrito seguindo as regras do Novo Acordo Ortográfico.

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Diana Cruz
Psicóloga Clínica e Terapeuta Familiar Leitora Compulsiva e apaixonada pela escrita, vejo na conjugação da minha profissão e destas paixões, a união perfeita de diferentes mundos.

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