36 meses, 1 semana e mais de 146 mil mortos. Assim, entrou a Síria no seu quarto ano de guerra civil, impulsionada pelos movimentos da Primavera Árabe, que se estão a propagar pelo mundo árabe, deixando um rastro de destruição e violência pelas cidades sírias, que se encontram destruídas e divididas entre apoiantes de Bashar al-Assad e uma oposição, que a cada dia que passa, está mais fragmentada.
Numa guerra que parece não ter fim estima-se que mais de nove milhões de pessoas tenham fugido do conflito, refugiando-se em campos onde a ajuda humanitária tem dificuldades em entrar por causa de uma forte repressão e restrições que o governo de Assad e a oposição impõem. Privado das mais elementares condições de vida, o povo sírio, não só corre o risco de morrer num dos múltiplos bombardeamentos que assolam diariamente as cidades, bem como por falha na satisfação das necessidades mais básicas do ser humano.
É perante este cenário de devastação e uma certa inércia das organizações internacionais que o futuro da Síria se adivinha negro. Recentemente, numa entrevista, à DW Brasil, Paulo Sérgio Pinheiro, o chefe da Comissão da ONU, responsável por investigar as violações dos direitos humanos na guerra Síria, afirma que a culpa deste conflito também reside nas mãos da comunidade internacional.
A actuação do Conselho de Segurança da ONU, especialmente dos membros permanentes – EUA, Rússia, China, Reino Unido e França – impede que este organismo dê uma resposta activa e unitária que forje uma solução para este conflito. “Por causa da divisão dentro do Conselho, especialmente entre os membros permanentes, a impunidade foi consagrada na Síria. Os crimes e violações vêm sendo cometidos, e os perpetradores estão totalmente tranquilos porque não precisam enfrentar qualquer nível de justiça.”
Enquanto as querelas entre os gigantes internacionais permanecem, a escalada de violência assume, cada dia, novas proporções, agravada pela entrada do grupo libanês Hezbollah na guerra, com o envio de tropas para o território sírio, declarando o seu apoio ao governo de Damasco. Deste modo, as forças opositoras, predominantemente muçulmanos sunitas, contra o regime vão perdendo terreno e força e a minoria alauita, no poder desde a década de 60, liderada por Assad, ganha ânimo para manter o poder.

Próximas eleições presidenciais
Na entrada do quarto ano do conflito sírio, as eleições presidenciais constituem-se como um importante factor na possível resolução da guerra civil. A 17 de Julho, o mandato de Assad termina, após 14 anos no poder, com uma clara intenção, ainda que não anunciada oficialmente, de tentar a reeleição para um terceiro mandato, na qual estão excluídos os opositores do governo Sírio em exílio.
O resultado destas eleições presidenciais será vital para definir os próximos passos políticos e militares, tanto do lado do governo de Damasco, apoiado pela Rússia e o Irão, como do lado da oposição rebelde, apoiada por Doha e Riade, capital e maior cidade da Arábia Saudita.
Até lá, se a inacção diplomática da comunidade internacional se mantiver, a sociedade civil parece não quer deixar que o povo sírio caia no esquecimento com inúmeras manifestações populares, um pouco por toda a Europa Ocidental, que alertam para a situação síria e para a urgência de uma solução que ponha um fim a este conflito.