Prohibitos autem amorem

O vento entrava-lhe por dentro dos cabelos dourados e entrelaçava-se nos caracóis grandes e caídos.

Ele observava-a ao longe.

Tentava, a todo o custo, esquecê-la. Colocá-la, adormecida, naquele cantinho onde ficam alojados os sonhos e as fantasias mais improváveis. Sabia bem ser impossível. Não conseguia tê-la, não se permitia esquecê-la.

Tentou convencer-se, durante anos, que a presença dela lhe era indiferente. Mentiu, com todos os dentes e todas as forças. Mentiu-lhe a ela, enganou-se a si próprio.

Depois ela sorria, gargalhava, os seus olhos brilhavam, e ao mínimo vislumbre daquilo que poderiam ter sido, toda a sua essência se diluía com a mesma facilidade que uma onda derruba um castelo de areia. Era este o peso que ela tinha na vida dele.

Com ela, despia todas as máscaras que teimava em colocar. Com ela – e só com ela – era ele, inteiro, genuíno. Com ela, virava poeta. Com ela, o amor parecia fácil. Com ela, o romantismo acontecia com a mesma naturalidade que a chuva cai do céu.

No silêncio, sozinho, pensava em todos os desejos por concretizar, desejos fúteis de um homem afogado numa esperança perpétua. Chorava, contra tudo aquilo que demonstrava ao mundo.

Encontrava conforto ao pensar na morte, tal misericórdia que lhe arrancava as emoções que levara a vida inteira a retrair. A ideia da sua morte transmitia-lhe paz; a dela, uma dor visceral que não conseguiria, nunca, descrever por palavras.

Ria alto quando imaginava que seriam o Romeu e Julieta dos tempos modernos. Haveriam, ainda, amores proibidos? – perguntava-lhe, enquanto a olhava nos olhos e lhe segurava a cara entre as suas mãos.

Meu bem, o amor pode magoar, até quando é correspondido – respondeu-lhe ela, com um sorriso nos lábios e uma dor excruciante no peito.

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