Alex é um adolescente britânico que não se insere no sistema. Com as hormonas em modo desenfreado e uma fúria terrível de viver, faz da sua rotina um modo de estar bem diferente dos demais.
Usando uma linguagem irónica e peculiar, sai com os amigos, todas as noites, para saques extremamente brutais e violentos. O respeito não lhe assiste e o ambiente familiar não é um bom exemplo.
O pai, um homem mirrado de ideias e de tanto mais, pouco ou nada comunica com o filho e a mãe, uma mulher extravagante e com receio de envelhecer, tem uma postura pouco maternal. Alex é um estranho na sua casa.
O bairro onde reside, uma zona suja e com um aspecto de guerra contínua, ilustra bem o que vai na sua demanda e essência, o degradar da sociedade em versão acelerada. Lixo no chão, tudo partido e sem nexo, um cenário macabro.
A escola nada lhe diz, pois, a noite é a sua tão boa parceira. Sente-se o chefe do gang e o único amigo que tem (pasme-se!) é uma cobra que vive num gavetão da sua cama. Roubar e violar são alegrias e o fruto de tudo é luz.
Contudo há algo que o motiva e incentiva, a boa música clássica. Beethoven, velho amigo, é a sua paixão e deixa-se levar até patamares tão elevados que plana na maior perfeição.
Caído numa armadilha montada pelos outros elementos do seu grupo, é detido e condenado a uma pena de prisão. Torna-se um preso exemplar e alvo fácil, uma presa apetitosa, para os predadores, aquilo que ele havia sido. A situação inverte-se.
Tendo conhecimento, por portas e travessas, de um programa que lhe pode devolver a liberdade, oferece-se como cobaia e acaba por ser escolhido. O que mais quer é sair de onde está, sente-se oprimido.
Como em todos as novidades, o entusiasmo é muito grande, mas podem existir efeitos que não são desejados. Alex vai sujeitar-se a uma espécie de tortura científica com a finalidade de modificar os seus padrões de conduta.
A irracionalidade de tudo tem pendor político e social, mas não passa de uma reles escravatura com nome pomposo. Alex sofre horrores e fica um cordeiro que pode ser humilhado sem sentir o que tal significa.
Enojado e tonto, desconhece-se e acaba por ser considerado curado e liberto do cativeiro que lhe ofereceram. Pode recuperar a sua vida e é isso que faz. Contudo, as surpresas vão ser das menos agradáveis.
A família não o quer e têm um substituto. Os pais desistiram do filho. Um caso sem emenda nem volta a dar. Perdido, sozinho, desanimado e desamparado, vagueia pelas ruas que, um dia, foram o seu domínio.
É espancado pelos anteriores colegas que (imagine-se!) agora são polícias. Uma vingança muito feia e desonrosa. Foge e procura apoio num lugar meio ermo, onde é acolhido. Aquela casa já tinha sofrido a sua anterior violência.
Identificado e com as autoridades notificadas, recomeça um outro calvário para reverter os efeitos nefastos do dito tratamento. Passou a odiar Beethoven, o seu herói musical. Inadmissível.
Tratado como uma grande vedeta, uma pessoa da máxima importância, Alex vai usufruir de uma atenção única que lhe vai permitir ter uma extraordinária recuperação. Importa que volte a ser que era, um pária revoltado.
Há quem o odeie e queira fazer justiça pelas próprias mãos, mas o ministro, para não cair em desgraça, a política no seu melhor, toma o assunto como o seu cavalo de batalha e cuida dele. Há que parecer e não ser.
E um dia, o milagre acontece. Beethoven volta a ser o seu doce e agradável mantra e Alex, agora de volta à vida, recomeça a sua lendária odisseia de ódio e de destruição. Tudo está bem quando acaba bem.
Fazer uma crítica de cinema, deveria ser mais do que descrever a história. Para isso, podemos simplesmente ver o filme. A não ser, que aquilo que desejamos fazer, seja uma mera informação, ao nível da que existia na TV Guia e subsiste na contracapa dos DVD. Deve então refletir-se, sobre o modo com a história é contada, a sua abordagem estética, o contexto sociológico e histórico, em que se insere. Do ponto de vista técnico, a linguagem cinematográfica, e a sua filiação numa determinada corrente estilística. Não esquecer ainda, dados essenciais, como o realizador, produtor, duração, língua, país, ano de estreia.
Agradeço o seu comentário. É importante obter resposta de quem lê. A crónica não é sobre o filme mas sim sobre o livro.