Foi a 5 de Junho de 2011 que cerca de 60% dos portugueses se dirigiu às urnas. Nesse dia, com cerca de 38% dos votos, Pedro Passos Coelho foi eleito primeiro-ministro. No entanto, o Governo de Passos Coelho que gozava, na altura, de um grande voto de confiança por parte dos portugueses, vê, hoje, essa confiança abalada.
O governo eleito com base em determinados compromissos eleitorais, acabou por contrariar as promessas, perdendo até a confiança de grande parte dos portugueses que nele votou. O actual primeiro-ministro repetia, em época de campanha, que não iria aumentar os impostos, que não haveriam cortes nas pensões mais baixas, mas sim um aumento do corte na despesa do Estado. Contudo, estas ideias ditas e repetidas não foram cumpridas.
Dois anos depois, já grande maioria dos portugueses não confiava no Governo de Passos Coelho. De acordo com o Eurobarómetro da Primavera de 2013, 88% da população não confiava no actual governo. Esta falta de confiança, que começou pouco depois do mesmo chegar ao poder, tem-se mantido ao longo destes anos. Em Maio de 2014, segundo o Eurobarómetro especial sobre os europeus, eram 86% os portugueses que desconfiavam destes governantes. Este número, não muito diferente do de 2013, revela, então, um contínuo descontentamento para com os escolhidos para liderar o país.
Em vésperas de ano eleitoral, a maioria dos portugueses parece não estar disposto a dar mais um voto de confiança ao PSD. Segundo o barómetro CM/Aximage, realizado no início do mês de Setembro, Pedro Passos Coelho não é o preferido para ocupar o cargo de primeiro-ministro. A sondagem revelava que a maioria dos portugueses escolheria o PS para governar o país e que António Costa era o favorito da população. Os passos do Governo parecem levar, cada vez mais, a população a desconfiar da sua eficiência. Depois de três anos, o Governo continua a cometer erros publicamente visíveis, que afectam a sua imagem. Mais recentemente, a falha foi dupla, sendo dois os grandes erros que, ao longo do mês de Setembro, instalaram a polémica em torno dos actuais governantes.
Desde o primeiro dia de Setembro, que a Justiça está paralisada em Portugal, porque a plataforma informática usada pelos funcionários judiciais, advogados e magistrados tem estado inoperacional, devido aos problemas resultantes da reorganização do mapa judiciário. Perante esta situação, a ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, desmentiu o caos no sistema e pediu desculpa pelos transtornos. Contudo, a desculpa não regularizou a situação e continuam os problemas pelos lados da Justiça. Por seu lado, a Educação não se encontra melhor. Dias depois do primeiro pedido de desculpas deste mês de Setembro, por parte de um membro do governo, o ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, admite o erro na colocação de professores. O mês de Setembro ainda não tinha terminado e surgia assim um novo pedido de desculpas, continuando, também, esta situação a não estar resolvida.
Em Setembro, nem o representante deste governo ficou longe das polémicas. Depois das desculpas dos ministros, renasceu mediaticamente o caso Tecnoforma. Foi a 18 de Setembro, que a revista Sábado revelou que o Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) estava a investigar uma denúncia recebida este ano, sendo o denunciado Pedro Passos Coelho. De acordo com esta denúncia, o primeiro-ministro, entre 1995 e 1999, enquanto era deputado em exclusividade na Assembleia da República, recebeu mais de 150 mil euros do grupo Tecnoforma. O caso, actualmente, está arquivado, mas continua na agenda mediática e o primeiro-ministro, ainda, não está livre do problema. Nem a oposição, nem a comunicação social esquecerão o caso até que tudo esteja esclarecido. Além disso, ainda decorre um inquérito em torno da actividade geral da empresa Tecnoforma, bem como um processo na União Europeia.
Num momento em que caminhamos para mais um ano eleitoral, surge a questão: será que os portugueses estariam dispostos a dar mais um voto de confiança a Pedro Passos Coelho? A verdade é que a desconfiança para com os representantes políticos não é de hoje e que há uma tendência crescente de desilusão e de desconfiança relativamente ao desempenho dos governos. A pouca afluência eleitoral, a elevada fuga aos impostos, o reduzido interesse e a escassa participação de jovens profissionais na vida política nacional é um reflexo desse declínio de confiança. Por isso, resta saber se os passos deste governo irão levar a uma desconfiança total para com os actuais governantes, ou se serão mais um motivo para a desconfiança total na instituição que governa o país.
O que pensas deste artigo?
