O que é o nosso lado sombra?
A nossa sombra é um lado obscuro, intrínseco, dentro de nós, uma amalgama de pensamentos, emoções e impulsos que nos são demasiado dolorosos, constrangedores ou desagradáveis para aceitarmos e, em vez de lidarmos com esses pensamentos, emoções e impulsos tão dolorosos e desagradáveis, reprimimo-los
Vivendo em negação, grande parte das nossas vidas, da nossa sombra, damos espaço para que esta se torne patológica para nós, ganhando força com a nossa repressão e, como a mantemos num canto escuro ignorando-a e reprimindo-a, ela torna-se imperceptível aos nossos olhos pois, se ela está na escuridão, olhando para o escuro não a iremos ver.
Queremos ocultar e esconder dos outros estas nossas sombras, mas sobretudo escondemos e ocultamos de nós próprios.
Qual a origem da nossa sombra?
A sombra começa a desenvolver-se e a nascer em nós em tenra idade, quando a nossa mente lógica ainda não tem maturidade suficiente para filtrar as mensagens que vai recebendo do “mundo exterior” que é inicialmente o núcleo familiar(pai/mãe/irmãos), passando pela família alargada (avós, primos, tios, etc.) até á esfera mais alargada onde crescemos que é o meio onde estamos inseridos (escola, bairro, igreja, etc.) e por último a sociedade/mundo em geral.
Perante a não aceitação de certas qualidades e características nossas por parte desse “mundo exterior” inevitavelmente, à medida que vamos recebendo esses in-puts exteriores, envergonhamo-nos de mostrar certas qualidades e características individuais, interiorizando a mensagem de que algo em nós não é bom, de que algo estava errado em nós ou que eramos “maus” de algum modo.
Estas mensagens infiltraram-se em nós alterando a percepção que tínhamos de nós mesmos o que fere o nosso EGO que, ferido, vai fazer tudo o que tiver ao seu alcance para ocultar o que acreditamos ser inaceitável sobre nós mesmos e sentindo-se assim “defeituoso”, para cumprir esta tarefa de ocultação deste material nosso que não é aceitável mostrar e passar para o “exterior”, constrói uma máscara para provar a esse “mundo exterior” que “não tem defeitos”, ”que não é inferior”, ”sem valor” ou “mau” como podemos temer que assim somos.
Criamos assim numa idade muito jovem uma “persona”, um embrulho com as texturas, contornos e cores que acreditamos que nos irão dar/trazer o Amor, a Aceitação e o Reconhecimento que tanto desejamos.
Estas máscaras que usamos podem ter assim diferentes rostos mediante a aparência que se quer ter. Pode ser o rosto de um agressor ou o rosto de uma vítima. O rosto de uma sedutora ou de uma “boa menina”, de um “valentão” ou a de uma “durona”, etc…
Sabes qual é a aparência da máscara que usas?
A ironia é que estas nossas características que foram primeiro não aceites e julgadas por outros são agora julgadas e não aceites por nós mesmos e, nesta negação e não aceitação, condenamo-las à escuridão o que nos provoca um tremendo gasto energético e, com o passar do tempo, perdendo o fulgor de mascarar esse(s) nossos aspectos, vão-se abrindo fendas e brechas nessas máscaras por onde essa energia da sombra desesperadamente se tentará libertar.
Quanto mais a negamos e reprimimos mais força ela ganha na nossa vida sendo uma força perigosa, destrutiva e inconsciente, fazendo movimentos, ela pode mover-se de várias formas e por diferentes meios, numa tentativa de sair da escuridão, à qual a condenamos, e chegar à luz para que assim vejamos finalmente o seu verdadeiro rosto.
Somente quando temos coragem para enfrentar as coisas exatamente como elas são sem qualquer auto-engano ou ilusão, é que uma luz surgirá dos acontecimentos, pela qual o caminho do sucesso poderá ser reconhecido
– I Ching (Livro das Mutações)
Só vendo o verdadeiro rosto da nossa sombra é que a podemos realmente começar a perceber, a compreender os seus movimentos, e, da compreensão, vem a seu tempo a sua aceitação. Ao abraçamo-la no nosso colo, dizendo-lhe que percebemos agora os seus movimentos reflexo das suas necessidades, dores e carências, assim como uma mãe toma um filho nos braços quando ele se magoa, está triste, assustado ou com medo, abrimos espaço para a acolhermos em nós em Amor.
Darmos à nossa sombra o nosso profundo amor é a chave para a sua libertação das profundezas da escuridão. À luz do nosso amor a nossa sombra tem espaço para ser transmutada, enfraquecida ou destruída pois o seu destino serve apenas a máxima expressão e vivência de tudo aquilo que somos e negamos que éramos.